CHICO CORRUPIO
CHICO CURRUPIO
Quando o vento sopra forte, o pó acumulado se levanta e dança loucamente fazendo redemoinhos e o povo de Sertão Grande, diz: olha o corrupio chegando, isso é coisa do capeta, porque ele sempre dança com a força do vento em um corrupio sem começo, meio ou fim, numa dança infernal.
E ao fazer essa afirmação, aquele povo crédulo realmente acreditava no que dizia e para eles o coisa ruim estava dançando e rodando no meio da poeira levantada pelo vento; se benziam devotamente e corriam para a segurança de suas casas, onde ficavam rezando até a ventania parar.
As crenças da gente sertaneja nos poderes do diabo, só perdem para os imbatíveis poderes de Nosso Senhor Jesus Cristo e de todos seus Santos e Anjos e mesmo com aquele medo atávico, se sentiam protegidos por Deus; aquele pavor todo, era superado por uma fé inabalável.
Vivia em Sertão Grande um cidadão chamado Chico, era uma pessoa comum e que não aborrecia ninguém, mas em uma noite de ventania ele viu no meio do corrupio uma sombra negra, com chifres curvos e vermelhos que rodava ao sabor do vento e contou aos amigos aquela visão.
O assunto se espalhou e a comunidade chegou a conclusão que se ele viu o tinhoso, era porque tinha trato com ele e além de perder todos os amigos, ele ganhou o sobrenome de Corrupio passou a ser chamado de Chico Corrupio; muito triste com a situação ele tentou se explicar.
Mas ninguém queria ouvir suas explicações e quem ouviu não se convenceu; sua esposa fugiu dele e levou os filhos para bem longe e assim ele ficou completamente só e quando passava pelas ruas, as pessoas se benziam e o saudavam sempre assim: te esconjuro Chico Corrupio.
O coitado pensava que com o passar do tempo, o assunto seria esquecido e sua vida voltaria ao normal, mas isso não aconteceu e historias assustadoras eram contadas a seu respeito: diziam que o capeta vivia na casa dele e só saia quanto o vento soprava forte e que Chico Corrupio dançava com ele no ar.
Muitas lendas mais foram inventadas a respeito daquele homem e de repente ele desapareceu sem deixar rastos, parecia que seu amigo infernal o tinha levado para sua casa: o Inferno; o povo muito assustado demoliu a casa de Chico Corrupio e jogaram cal virgem e arruda no terreno.
Quem passava por perto do terreno condenado, rezava o Credo e se benzia varias vezes e mesmo assim só durante o dia, á noite ninguém passava por lá; esse medo todo durou dois meses e no final tudo se explicou da maneira mais natural possível, porque o Chico foi encontrado.
Infelizmente Chico Corrupio estava morto afogado no Rio das Piranhas, e só foi boiar muitas léguas rio abaixo, porque tinha um saco cheio de pedras amarrado na cintura; o coitado desistiu de lutar contra a crendice maldosa do povão e se matou, mas nem todos se convenceram de sua inocência.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA