O Vampiro Londrino

Meus dedos frios começaram a tremer em meu colo, congelando em minhas luvas de couro. O carro do metrô estava completamente vazio e a solidão começou a me amedrontar. Eu só podia ouvir o som do trem nos trilhos de ferro. Faltavam mais sete estações para que eu deixasse o transporte e começasse a caminhar para casa. Ajeitei o sobretudo preto, fechando-o. Era um clássico sobretudo inglês, com a ponta dividida, como a língua de uma cobra.

O trem parou ao lado da plataforma. "Mais seis", pensei. No outro lado do carro, um homem entrou. Ele usava um sobretudo semelhante ao meu e uma cartola com uma fita cinza. Olhou os acentos vagos e me encontrou no fundo do último banco. O encarei com a mesma intensidade que ele o fez. Seus olhos eram escuros e não pude definir a cor exata naquela distância, ele era extremamente pálido e usava um bigode fino que lhe cobria a parte superior aos lábios.

Ele caminhou lentamente em minha direção sem fazer barulho com suas botas de couro negro, sorriu e sentou ao meu lado.

-Olá! - Disse com uma voz aveludada e hipnótica.

-Oi. - murmurei tímida.

-Está um pouco tarde para alguém passear, não acha? - Ele me fitou e virei o rosto para a janela, fugindo de seu olhar.

-Um pouco. - suspirei.

-Então, o que está fazendo sozinha? - O ouvi rindo.

-Estava trabalhando num restaurante. - Algo na voz dele me fazia querer respondê-lo. - Estava fazendo hora extra.

-Qual o seu nome, querida?

-Samara.

-Prazer, eu sou Friedrich, mas, pode me chamar de Fritz.

Não respondi. Ele se voltou para seu colo, limpando algum pó que eu não havia reparado antes. Voltei a olhá-lo frente-a-frente. Ele havia retirado a cartola, seu cabelo castanho claro era extremamente liso e, agora, com a luz em sua face, percebi o quão jovem ele era. Não devia ter mais que 20 anos. O bigode não passava de um acessório para seu charme natural.

O trem parou novamente. "Cinco", lembrei-me.

Fritz parecia muito interessado em mim e seus olhos não paravam de percorrer meu corpo e meu rosto. Aos poucos, eu perdi a intenção de evitar seus olhos e, duas estações depois, estávamos nos olhando fixamente.

-Você se importaria de me acompanhar? - Ele quebrou, finalmente, o silêncio, mas, fiquei pasma com a pergunta.

-O que você quer dizer? - Perguntei, franzindo a testa. Fritz riu levemente.

-Venha comigo. Quero te mostrar uma coisa. - Ele piscou e naquele momento, era como se eu estivesse presa a ele. Poderia dizer que Fritz era sedutor, mas, não era, exatamente, isso que parecia. Ele era hipnótico. Tudo nele me agradava profundamente.

O trem parou e ele se levantou oferecendo sua mão direita enquanto recolocava a cartola com a esquerda. Não dissemos nada. Apenas o acompanhei para fora do trem e da estação. Londres estava fria e as luzes dos postes começaram a falhar. Eu o segui até um beco escuro e úmido. Ele passou sua mão enluvada em meus ombros e retirou meu sobretudo. Arranquei sua cartola e observei atentamente seus olhos. Desta vez, pude definir a cor. Era vermelho. Vermelho sangue. A surpresa foi tamanha, que meu rosto ficou pasmo. Ele sorriu mostrando os caninos.

-Era isso que queria te mostrar. - A voz aveludada me paralisou.

Fritz se lançou em minha direção me prendendo contra a parede gelada. Ele passou o nariz em meu pescoço e abriu a boca, cravando os caninos em minha pele.

Ele permaneceu bebendo meu sangue por muito tempo e comecei a me sentir fraca, minhas pernas começaram a ceder com o peso de meu corpo seco, mas ele segurou minha cintura com firmeza. Parecia decidido a não deixar sobrar nem mesmo uma gota de meu sangue. Foi quando adormeci, cai no sono mais pesado existente. Um sono da qual não se pode acordar.

Leticia Dias
Enviado por Leticia Dias em 13/08/2009
Reeditado em 14/08/2009
Código do texto: T1752093
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