INCONJUGÁVEL VERBO TRAIR - Lia Sá Leitão 03/08/09.

Segundo aqueles que jamais trairam trair é: ser infiel a... quem nunca foi infiel a... que atire o primeiro vírus em meu micro, eu assumo que é inconjugável o verbo trair, aqui, não estou levando em consideração os atos e sim o silêncio que há entre a escrita e as lembranças do ontem.

Como é fácil desejar o outro seja pela cobiça do corpo, seja pelo desejo da alma que ilumina o sorriso mais descrente de paixão, seja pelo anseio da posse já esquecida na sala de jantar, comensais, todos se devoram em orações, canções, pinturas, a Função Poética é canibalesca, toda a alma escreve poemas, toda alma vive o soneto de amor eterno, toda a alma segreda os fetiches e os deixam apodrecer em pecados jamais revelados, ai está a maldade humana, eis o verbo trair praticado em essência.

Enquanto isso nos Trópicos, homens e mulheres na vitrine, quarentões em plena vitalidade o que seria aberração negar um sorriso expondo uma certa malícia de experiência regado ao suco de abacaxi.

O inconjugável verbo trair diante olhares mais claro da ótica moderna, os óculos escuros escondem os raios predadores e sedentos transformados em sutis piscadelas expressando o reprimido desejo simbolizado naquela aliança de ouro carimbando o imaginário coletivo como símbolo da posse. O fogo! A queimação da carne, aquele que passa e espia com olhos de quem tem fome o inocente decote. Aquele despreocupado calção que guarda seu dono por inteiro cobrindo-lhes as partes mais cobiçadas, corre, corre livre, corre beira mar à fora buscando a tonicidade dos músculos, consigo perder a postura de escritora séria que sou, e em meus devaneios imaginar aquele par de bunda rechonchuda e musculosa tomando um beslicão antes da chuveirada, é rapazes, o país das bundas tem lá seus segredos, as mulheres nem sempre olham os olhos, os paus do nariz ou outro membro mais resguardado e contido, olha mesmo é o bumbum, seja novo, seja um pouco mais usado pelas horas de trabalho, não importa! Voltemos ao inconjugável verbo trair, tudo que pode manifestar sentimento de desejo abrupto ou sequencial, chamo sequencial aquele sentimento de hora marcada, não se tem o direito de perder o segundo do relógio atômico que marca as horas do Mundo. É hora dos graciosos deuses passearem livres como simples mortais atentando os olhares mais amadurecidos de saudade.

Tenho percebido que os meus alunos por exemplo, perderam muito dos devaneios solitários, como eu gostava de chegar meio que escondida para ouvir os comentários, fulana tem isso, fulana é assim fulana é... e todos se espantavam...num hummm! Os rapazes não sabem conjugar o verbo trair, perdeu até a graça! Não conseguem nem mesmo justificar quando se pergunta você consegue trair alguém? Não, eles não sabem por que como ficantes não tem responsabilidades e tudo é todo mundo, contribui para os momentâneos apaixonados de final de festa, frequentar festas é desviar atenção de muitos da pornografia infernética da internet.

Mas as meninas também tem seu lado de quiquiquis (inventei agora!) é o que costumo chamar de o trincar de espelho, as descobertas do corpo quando se descortina a pureza a mulher desabrocha entre os desejos nunca dantes explicados, como é bom descobrir os pontos sem necessariamente ter o alfabeto inteiro a, b, c ou G, o importante é sentir a resposta do corpo deliando em si desfrutando em si amor.

Como é inconjugável o verbo trair, trair-se no entanto pode ser, não utilizarei em meu corpo o desejo se servir a minha alma em detrimento daquele desconhecido que passa.

Ser fiel o tempo inteiro sem o rabisquinho de olho, sem tremedeira de pernas, sem mãos geladas, sem o olhar procurando a chave principal da porta de entrada.

São Tomás de Aquino que o diga!

É realmente inconjugável o verbo trair, ninguém sabe a dor que causa no traído, ou a sensação de liberdade de quem trai e depois numa vã esperteza tenta se justificar.

Lia Lúcia de Sá Leitão
Enviado por Lia Lúcia de Sá Leitão em 12/08/2009
Código do texto: T1749419
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