Desejo de Liberdade
Estava sentada num banco de madeira branca, observando o céu limpo e ensolarado. Era meio dia e logo serviriam aquele almoço porco e horrível.
Um dos psiquiatras se sentou ao meu lado. Ele pôs a mão em meu ombro e olhei para seus olhos escuros.
-O que você quer? - Perguntei nervosa.
-Você não precisa se irritar, mas, você tem de vir comigo. Tem que almoçar!
-Você quer dizer que sou obrigada a comer aquela coisa horrível que vocês servem? - explodi afastando-me do médico - Estou cansada de você e seus amiguinhos acreditarem que tenho algum tipo de problema psicológico. Eu já disse. Não sou louca!
Ele se levantou abrindo um sorriso sarcástico:
-Mas, você precisa comer, Emily. Venha.
-Não, vocês servem aquela refeição porca para seus pacientes enquanto comem pratos finos como lagosta. Eu sei seus segredos e me nego e me alimentar aqui novamente!
Ele ficou sério com meu aviso e franziu a testa.
-Então, você vai morrer de fome! - E se afastou.
Olhei para o muro de concreto logo depois da grade. Não seria difícil passar por nenhum dos dois. Diferente do que aqueles médicos nojentos pensavam, eu estava em sã consciência e não iria ficar ali nem mais um minuto.
Levantei lentamente do banco e joguei meu cabelo comprido para trás, relaxando meus músculos, preparando-os para o esforço que teria de fazer por pelo menos duas horas. Olhei em volta, o psiquiatra acabara de entrar no salão de refeições.
Sem mais, corri loucamente até a grade e a escalei facilmente, já tinha feito aquilo a alguns anos, na escola. Saltei para o outro lado, correndo em direção ao muro, dessa vez uma câmera na parede me flagrou enquanto saltava para o outro lado e pouco tempo depois, o alarme tocou.
Como eu pensei, além do muro, existia uma estrada completamente deserta. Eu não sabia bem para onde ir, mas, arrisquei para a direita. Olhei para trás e vi alguns guardas do hospício saírem de suas dependências. Carregavam armas com soníferos.
Enquanto corria pela estrada, os homens tentavam me encurralar, eles fariam o possível para não atirar em mim. A minha direita estava o hospício e a esquerda, um enorme barranco e abaixo, um rio. Antes que pudessem impedir minha fuga, me joguei para fora da estrada, rolando pelo barranco. Senti uma dor aguda quando minha cabeça acertou uma pedra pontuda e frio quando cheguei a água.
Minha cabeça latejava e passei os dedos em minhas têmporas, onde encontrei uma quantidade razoável de sangue. Descendo o barranco cuidadosamente, estavam os guardas e agora, alguns psiquiatras. Mergulhei no rio, nadando contra a correnteza, mas, pouco tempo depois desisti, já que os guardas começaram a trazer um barco para a margem do rio.
A correnteza me levou por vários quilômetros e os médicos e guardas pareciam frustrados a distância, devido ao furo que fiz no barco na noite anterior. Eu havia preparado aquela fuga a algum tempo e, finalmente, estava se tornando realidade. Não pude conter um riso com esse pensamento. Agora, só precisava me manter na superfície da água e esperar até algum tipo de civilização.
Enquanto a correnteza me puxava, me lembrei do motivo para estar naquele hospício: Eu sentia prazer no sofrimento das pessoas e a cada dia, eu queria ver o sofrimento deles, até passar a assassinar idiotas que encontrava na rua durante a noite.
Alguns minutos depois ouvi um barulho forte, parecia que a água se chocava com alguma coisa e só então, percebi uma cachoeira a minha frente. Lutei contra a correnteza, mas, era tarde demais. Observei o céu por uma última vez, antes de cair em desespero por minha própria morte.
Era irônico como morrer seria interessante depois de matar tanta gente. Foi uma queda realmente deliciosa e eu faria tudo novamente se pudesse.