Complexo de Solidão

A poça da chuva, iluminada pela luz do poste, refletia minha imagem triste. Senti-me sozinha quando percebi a luz apagar-se. Teria queimado? Talvez.

Sentei-me no meio fio observando o vazio da rua, o vazio da escuridão. Um gato preto vagava pelo outro lado, observou-me por um momento e depois de olhar no fundo de meus olhos completamente negros, aproximou-se.

Ouvi o ronronar enquanto ele se esfregava em minha calça jeans azul. Passei meus dedos por entre suas orelhas.

-Sozinho também? - ele não respondeu, e não esperava tal reação.

Novamente observo a rua, alguém caminha na escuridão. O gato sobe o meio fio e salta em meu colo, acomodando-se em meu peito. Viro-me para o céu, vazio, apenas a lua brilha.

-Demorei? - só então percebo a face ao meu lado. Os olhos brancos destacam-se na escuridão e realção-se com os meus, o cabelo azul e liso perfeitamente arrumado, fazendo uma franja sobre sua testa pálida.

Nada respondo.

-Desculpe, não ira se repetir! - ele passa os dedos frios em meu rosto.

Olho para a rua e vejo um homem caminhando. Ele observa a situação com uma dúvida estampada no rosto.

Volto meus olhos para o rapaz, me dou conta de que está se dissolvendo, desaparecendo no ar. Quando finalmente desaparece por completo, penso que fora tudo uma ilusão, nada mais que meus pensamentos fluindo.

Levemente sinto as gotas grossas de chuva cortarem o ar, o gato salta de sua posição. Talvez em busca de abrigo.

Por fim, vejo-me só novamente. Como sempre estive. Como sempre estarei.

Leticia Dias
Enviado por Leticia Dias em 05/08/2009
Código do texto: T1738845
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.