O PRESENTE DE CINDERELA...
O pai de Cinderela, indo fazer uma viagem por terras distantes, chamou as filhas e disse-lhes que lhe contassem dos
presentes que desejavam receber. A primeira pediu vestidos de
grifes famosas. A segunda pediu perfumes franceses. Cinderela,
bobinha, coitadinha, sem nada entender do jogo das vaidades
urbanas e movida por sentimentos rurais, fez um pedido estranho:
que ele, o pai, lhe trouxesse o primeiro galho de árvore em que
sua cabeça esbarrasse. E assim aconteceu. Cada uma recebeu
os presentes pedidos. A menina, com o galho quebrado em sua
mão, enterrou-o no campo, regou, cuidou dele. O galho pegou,
cobriu-se de folhas, transformou-se em uma árvore frondosa,
onde os pássaros faziam seus ninhos. Quando a menina ficava
triste, ela vinha contar suas dores à árvore. A árvore era sua mãe.
O lugar onde se pode chorar sempre sem ter vergonha.
Lugares onde se pode rir são muitos: as festas, os
bares, os passeios com amigos e desconhecidos. Os risos, não
necessitam justificativas. Mas são poucos os lugares onde se
pode chorar, sem sentir vergonha, e sem ter de suportar a
tolice dos insensíveis que desejam transformar o choro em riso:
eles não entendem. A árvore "mãe" é o lugar onde se pode chorar
sem sentir vergonha.
Gosto muito dessa metáfora para uma mãe: "árvore".
As árvores estão sempre a espera. Acolhem aqueles que a buscam,
na sua sombra. São silenciosas. Não tem pressa. Sob as árvores
os pensamentos se aquietam. Elas nos falam da estupidêz dos
homens e mulheres, na sua correria, sempre em busca dos olhares
dos outros. Coitados dos adultos; sempre prisioneiros dos olhos
dos outros e dos pensamentos que imaginam morar neles.
Árvores não tem olhos. Por isso, elas não fazem comparações.
Não dizem que esse é mais bonito que aquele.
Naquela árvore, moravam os pássaros amigos da
menina. Avezinhas símbolos de fragilidade e inocência.