Que coisa feia!

Sempre procuro ocupar o meu tempo com algo que me traga subsídios para aprender, para ganhar experiência e para desenvolver a capacidade de percepção, de forma a adquirir a acuidade cada vez maior nos trabalhos de observação, de comparação e de análise, seja de fatos, de pessoas, de atitudes ou de coisas. Essa forma de agir está perfeitamente concorde com aquele, cujo objetivo seja o de incentivar o maior número possível de cidadãos, que estejam dispostos a ouvir a própria consciência, a fazerem uma reflexão de nível mais inteligente, a ponto de poderem criar um melhor sentido à sua vida, tornando-a mais útil, profícua e prazerosa.

Fazendo parte dessa busca, também cabe a descontração (vide: 'Vamos “curtir numa boa”?') e, principalmente, o motivo de se rir às pampas, pois rir ainda é o melhor remédio ou a melhor forma de se manter a jovialidade, seja lá qual for a nosso idade; esse é o caminho para respondermos àqueles que nos considerarem idosos, que não somos velhos, mas apenas somos jovens há mais tempo do que eles. É por essas e outras que procuro assistir a espetáculos de humor inteligente, seja lá qual for o meio de comunicação - assim, há alguns dias atrás, fui ao Teatro Estadual de Araras, a fim de participar de um grande espetáculo humorístico, razão pela qual procurei chegar ao local perto de uma hora antes do seu início. Realmente, eu e minha esposa nos localizamos próximos da vigésima pessoa a chegar, sendo que, mais quinze minutos depois, a fila de entrada já estava dando volta pelo teatro. Foi uma noite muito fria, dando a impressão de que havia uma quantidade de gelo derretendo dentro dos ossos, embora estivéssemos devidamente agasalhados, mas ali permanecemos pacientemente, no aguardo da abertura da porta de acesso ao saguão do teatro.

Foi por aí, a partir de mais vinte minutos, que várias pessoas, na maioria jovens e mulheres de meia-idade, começaram a procurar se infiltrar entre os primeiros da fila, a ponto de causarem tumulto com outros, mais para trás, que não se conformavam com o abuso do “jeitinho brasileiro” de desrespeito ao próximo. A coisa foi tomando proporções maiores, até o momento em que a porta se abriu, dando passagem a uma pessoa por vez, e tal e qual um bando de touros enfurecidos a horda tomou conta da cena, havendo assim um espetáculo deprimente de selvageria, obrigando-nos a entrar em um empurra-empurra desconcertante, totalmente desnecessário e amoral! _Que coisa feia! Pra que tudo isso? Por que essa demonstração explícita de incivilidade?

A fila é umas das formas mais democráticas de se agir no meio coletivo, pois os primeiros a chegarem serão atendidos antes dos que vierem “a posteriori”, ou seja, dentro de uma ordem lógica, cronológica e devida, e estamos conversados. Em muitas entidades públicas usa-se até senhas numéricas, onde a sequência é obrigatoriamente respeitada, assim dando mostras da harmonia oferecida pela fila, como instituição, por ela ser útil, racional, lógica, ordeira e, principalmente, civilizada. Já passou da hora de o homem se aperceber dessa realidade e deixar de agir como animal selvagem, para assim honrar sua condição de ser humano, que é movido pela razão, pelo sentimento e pela vontade, e não pelo instinto, como os bichos.

Não fora essa parte negativa, o evento teria sido cem por cento brilhante, pois rimos à vontade até às lágrimas e, para fechar com chave de ouro, tivemos o privilégio de conhecer Ana Luisa, uma pessoa doce, participante de um movimento espiritualista, que nos encantou de verdade, principalmente quando, dias depois, fui honrado pela sua gentileza em deixar um recado no meu escaninho da internet no “Recanto das Letras”, fazendo menção ao nosso agradável encontro, portanto tudo valeu a pena, além da expectativa. Ela é uma assídua leitora do Opinião Jornal e por essa razão achou o encontro prazeroso, pois queria conhecer-me pessoalmente, por ela ser uma acompanhante do meu trabalho semanal.

Pois é, absolutamente nada justifica atitudes antiéticas, no meio de um evento que deve reunir pessoas sensatas e de nível educacional elevado, empanando assim o seu brilho. _Que coisa feia!

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 05/08/2009
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