O TOMBO
CAP  I

 O UMBIGO
 
Nossa casa era branca, janelas e portas amarelas, frente para Rua Andaluzita e esquina com Rua Esmeralda.
Meu pai tinha essa mania de casa branca, mania que herdei por ser mania dele e porque fiquei convencida de que as casas têm mesmo que ser brancas.
Era grande, com varanda na frente e nos fundos que dava para um quintal onde o verde imperava nos coqueiros, nos abacateiros, jabuticabeiras, mangueiras, goiabeiras, romãs, rosas vermelhas, preferidas de minha mãe e dos colibris.
Acordar com a algazarra dos pássaros é um momento ímpar em minhas lembranças.
 
Um dia do Ano de 1987 meu pai se foi, e o corte de sua presença trouxe tristeza e melancolia aos fins de semana em que eu havia incluído ir para sua casa, como rotina prazerosa em minha vida.
As noites na varanda e a conversa com todos os que paravam no portão, tornaram-se sem graça.
Mas minha mãe ficara só, e mais do que nunca precisava da companhia dos filhos e netos.
 
O Gil da Juditinha, nosso vizinho desde sempre, achou de colocar umas mesinhas em frente ao seu boteco e era lá que eu costumava rever meus amigos que não haviam saído para outras cidades, e outros que saíram mas não saíram, porque, igual a mim, iam para Pancas nos finais de semana e feriados.
 
Uma noite de Sábado o Arnaldinho chegou ao portão e me chamou para o bar do Gil, onde costumávamos atualizar os assuntos sobre política, música, família e qualquer assunto que aparecesse.
Éramos bem ecléticos em nossa vã filosofia.
Em dado momento o Arnaldinho me saiu com essa :
 
- Miriam, se você fosse ter uma casa sua aqui em Pancas, onde você gostaria de morar?
 
Olhei para a Pedra do Retiro, para a qual eu estava bem de frente e respondi :
 
- No alto de alguma dessas pedras, em uma casa caiada, de janelas e portas azuis, com a descarga do banheiro daquelas de ferro, igual havia sido em nossa casa, muito tempo atrás...
 

Ele riu e disse olhando a Pedra do Retiro:
 
- A casinha caiada, de janelas e portas azuis, não será difícil. Mas a descarga de ferro ...