PARADOXO
(da minha obra Chega?!.).
— Amilton, onde você pensa que vai, todo perfumado, em pleno sábado e a esta hora da noite?
— Lucila, minha fofinha, vou até o Bar da Praia, calcado numa única e fiel missão: propagar meu candidato a prefeito.
— Amilton, não minta pra mim!
— Querida, deixa de ser insegura.
— Está bem, meu anjo, mas,... chuim, in, in, in....
— Que foi agora Lucila?
— Minha asma. Dê-me a bombinha.
— Pronto! Escafedeu-se. Meu candidato acaba de perder as eleições. Tudo por causa da sua insegurança e desta asma.
— Estou melhor, senhor Fax Eletrônico. Mas não se traumatize por ele perder as eleições. A culpa não é sua. Culpado é o Bar da Praia que fechou há meses.
— Querida, desculpe-me. Falei errado. Meu destino era fazer campanha no baile da Lofty. Foi uma pequena falha lingüística.
— Façamos o seguinte: vá fazer sua campanha que irei morar com mamãe em Atibaia.
— Você enlouqueceu, pretinha?
— Não, nunca estive tão lúcida. Esta noite, enquanto você fazia campanha eleitoral, fiz uma reavaliação do nosso relacionamento. Estamos em pólos opostos.
— Sua praga mortífera 1, você não sabia que os opostos se atraem?
— Taí, frase feita. Você assalta frases feitas. Isto eu não gosto.
— Eu também não gosto de quando você fica abrindo sua bagagem da Europa e Estados Unidos, países onde você morou, casou e que você ainda curte. Principalmente a Itália, seus italianos e até as músicas que você aprecia do Eros Ramazzotti. A voz dele lembra uma taquara rachada.
— Pois é, eu curto músicas e sonho em dar uma volta ao mundo. E seu sonho mais arrojado é ir a uma ilha vizinha de sua cidade: Ilha Porchat.
— Querida, você é muito audaciosa em pretender dar volta ao mundo. Você sequer tem noção de direção. Age como um semáforo em curto no trânsito. Quando pretende chegar na praia, já está no túnel sentido centro da cidade. Isto porque Santos é uma cidade pequena! Já lhe disse: jogue um barquinho de papel na água do canal que você saberá a direção da praia ou da cidade!
— Engraçadinho! Não vai dar certo, Amilton.
— Por quê?
— Você adora comer e eu detesto cozinhar. E de mais a mais, fala tão alto que parece um megafone ambulante.
— Pensando bem, creio que não dará certo mesmo. Você é preguiçosa e acorda tarde. Para comer é uma draga, mas para trabalhar é uma praga. Nosso quarto, então, parece a casa do espanto 3.
— Isto mesmo, sou bicho grilo. Portanto, você é muito organizadinho para meu gosto. Não suporto quando você acorda cedo e vai caminhar na praia. Você sai justamente na calada do meu melhor sono. E não suporto sua maneira de ser. Sempre disponível, exibindo esse peito peludo e essas coxas gostosas. Não, não. Não quero me torturar. Por favor, passe-me a bombinha...
— Está mal novamente da asma?
— Chim, in in,in.. Vamos, dê-me a bombinha!
— Você não quer respiração boca a boca?
— Por favor, não encoste em mim. Não quero perder o equilíbrio e esquecer que você não aprecia tudo aquilo de que gosto. Não se aproxime de mim!
— É melhor mesmo. Se eu a beijar neste estado você ficará tal qual uma centopéia com labirintite. Você não está bem. Deixe apenas eu escovar seus cabelos.
— Saia daqui, seu desarranjo.
— Lucilinha, você se pega em coisas tão pequeninas! É que eu não fico questionando, mas adoro praia, ginástica, jogar volley, dançar e, no entanto, você não suporta nada disso.
— E você, que além de não me acompanhar, não gosta de ópera, concertos e palestras?
— Fofinha, em contrapartida gosto de pagode e sexo!
— Detesto quando você me chama de fofinha. Esse tratamento é desgastado e comum. Odeio seu fascínio por política. Detesto políticos. Eles são oportunistas e mentirosos.
— Sua lombriga gigante, eu também odeio quando você faz malcriações. E por que você está de roupas pretas? É só para me contrariar, não é?
— Acho o preto um luxo. Ridículas são as calças justas que você usa. Principalmente quando você usa calça, camisa e sapatos brancos. Parece um pai-de-santo. A propósito, onde estão as calças de preguinhas que lhe comprei?
— Guardei-as para quando eu ficar velho e barrigudo.
— Você não se dá conta, não é? Você quer dizer: quando ficar ainda mais barrigudo?
— Pois é, formiguinha eletrônica, sou muito velho para você!
— Eu não disse nada!
— Depois diz que eu sou mascarado e que você é cristalina. Aliás, acho que você é recoberta por um leve verniz.
— Sou autêntica e sei o que quero. Gosto de leitura enquanto você tem preguiça mental.
— Ah-ha!...gosto de esporte e você tem preguiça física.
— Não suporto suas mentiras. Só neste ano você foi a três festas de aniversário de sua neta. Chegou a dizer que foi a um jantar com seu filho. E pensar que ele está nos Estados Unidos há cinco anos! Não, não, Amilton, não dá mais!
— À você, Lucila, o meu não às cobranças e o meu eterno adeus. Não quero maltratar meu coração já safenado.
— Seu coração é muito safado, isso sim ! E então, ô, ô, ô, ressonância magnética? De quem são estes telefones que encontrei em seus bolsos?
— São das minhas colegas!
— Cínico. Colegas são de trabalho. E você sequer trabalha.
— Já trabalhei muito. Sou aposentado, minha filha. E você que nunca recolheu INSS?!
— Não invisto em mixarias. Tenho bom gosto.
— Não com essa sacola ridícula que você usa para rechear carências.
— Você é cismado com minha sacola, não?
— E você com as ligações que recebo. Afinal, estas roupas sujas que você está colocando na mala é para a coitadinha da minha sogra lavar?
— As roupas sujas estou lavando neste momento com você.
— Realmente, Lucila, não temos nada em comum.
— Sentirei saudade, Amilton.
— Do quê?
— Do seu cheiro.
— Eu também sentirei saudade de acarinhar seus longos cabelos. Pois é, Lucila, que pena, não temos nada em comum!
— Não faz mal, mesmo à distância, sentirei você beijando com suavidade meu cangote. Ai, ai, ai, chuin, in, in.. me passe a bombinha.
— Eu também sentirei suas mãos macias em minha pele.
— Pois é, não temos nada em comum. Mas... cubra este peito peludo, tá?
— Está bem, mas não use saias justas. Nunca lhe falei nada, mas sua cintura é muito fina e fica desproporcional ao seu corpo. Você tem muito bumbum para tão pouca cintura. Use vestidos bem soltos, tá?
— Já vou, Amilton.
— Não. Sim, vá, não temos nada a ver um com o outro.
— Não querendo ser “achista“, também acho.
— Cuide-se, Amilton.
— Ai, ai, ai...
— Que foi, Amilton?
— Meu coração.
— Você está pálido!
— Você é burra mesmo, não?
— Amilton, você é capaz de morrer me xingando.
— Sua peste bubônica, não é nada físico, é a dor do amor. Entendeu? Eu a amo.
— Isto não me completa. Você é uma presença ausente em minha vida. Já estou indo. Ah... sim! Não, não, deixa pra lá.
— Diga logo, mosca entupida!
— Eu também o amo.
— Muito???
— Muito, muito...
— Eu também, minha lindinha! Afinal, existe algo acidentalmente, profundamente e maravilhosamente em comum entre nós: o amor. Amor ao ego.
(minha homenagem à doce amiga Lucila).
(da minha obra Chega?!.).
— Amilton, onde você pensa que vai, todo perfumado, em pleno sábado e a esta hora da noite?
— Lucila, minha fofinha, vou até o Bar da Praia, calcado numa única e fiel missão: propagar meu candidato a prefeito.
— Amilton, não minta pra mim!
— Querida, deixa de ser insegura.
— Está bem, meu anjo, mas,... chuim, in, in, in....
— Que foi agora Lucila?
— Minha asma. Dê-me a bombinha.
— Pronto! Escafedeu-se. Meu candidato acaba de perder as eleições. Tudo por causa da sua insegurança e desta asma.
— Estou melhor, senhor Fax Eletrônico. Mas não se traumatize por ele perder as eleições. A culpa não é sua. Culpado é o Bar da Praia que fechou há meses.
— Querida, desculpe-me. Falei errado. Meu destino era fazer campanha no baile da Lofty. Foi uma pequena falha lingüística.
— Façamos o seguinte: vá fazer sua campanha que irei morar com mamãe em Atibaia.
— Você enlouqueceu, pretinha?
— Não, nunca estive tão lúcida. Esta noite, enquanto você fazia campanha eleitoral, fiz uma reavaliação do nosso relacionamento. Estamos em pólos opostos.
— Sua praga mortífera 1, você não sabia que os opostos se atraem?
— Taí, frase feita. Você assalta frases feitas. Isto eu não gosto.
— Eu também não gosto de quando você fica abrindo sua bagagem da Europa e Estados Unidos, países onde você morou, casou e que você ainda curte. Principalmente a Itália, seus italianos e até as músicas que você aprecia do Eros Ramazzotti. A voz dele lembra uma taquara rachada.
— Pois é, eu curto músicas e sonho em dar uma volta ao mundo. E seu sonho mais arrojado é ir a uma ilha vizinha de sua cidade: Ilha Porchat.
— Querida, você é muito audaciosa em pretender dar volta ao mundo. Você sequer tem noção de direção. Age como um semáforo em curto no trânsito. Quando pretende chegar na praia, já está no túnel sentido centro da cidade. Isto porque Santos é uma cidade pequena! Já lhe disse: jogue um barquinho de papel na água do canal que você saberá a direção da praia ou da cidade!
— Engraçadinho! Não vai dar certo, Amilton.
— Por quê?
— Você adora comer e eu detesto cozinhar. E de mais a mais, fala tão alto que parece um megafone ambulante.
— Pensando bem, creio que não dará certo mesmo. Você é preguiçosa e acorda tarde. Para comer é uma draga, mas para trabalhar é uma praga. Nosso quarto, então, parece a casa do espanto 3.
— Isto mesmo, sou bicho grilo. Portanto, você é muito organizadinho para meu gosto. Não suporto quando você acorda cedo e vai caminhar na praia. Você sai justamente na calada do meu melhor sono. E não suporto sua maneira de ser. Sempre disponível, exibindo esse peito peludo e essas coxas gostosas. Não, não. Não quero me torturar. Por favor, passe-me a bombinha...
— Está mal novamente da asma?
— Chim, in in,in.. Vamos, dê-me a bombinha!
— Você não quer respiração boca a boca?
— Por favor, não encoste em mim. Não quero perder o equilíbrio e esquecer que você não aprecia tudo aquilo de que gosto. Não se aproxime de mim!
— É melhor mesmo. Se eu a beijar neste estado você ficará tal qual uma centopéia com labirintite. Você não está bem. Deixe apenas eu escovar seus cabelos.
— Saia daqui, seu desarranjo.
— Lucilinha, você se pega em coisas tão pequeninas! É que eu não fico questionando, mas adoro praia, ginástica, jogar volley, dançar e, no entanto, você não suporta nada disso.
— E você, que além de não me acompanhar, não gosta de ópera, concertos e palestras?
— Fofinha, em contrapartida gosto de pagode e sexo!
— Detesto quando você me chama de fofinha. Esse tratamento é desgastado e comum. Odeio seu fascínio por política. Detesto políticos. Eles são oportunistas e mentirosos.
— Sua lombriga gigante, eu também odeio quando você faz malcriações. E por que você está de roupas pretas? É só para me contrariar, não é?
— Acho o preto um luxo. Ridículas são as calças justas que você usa. Principalmente quando você usa calça, camisa e sapatos brancos. Parece um pai-de-santo. A propósito, onde estão as calças de preguinhas que lhe comprei?
— Guardei-as para quando eu ficar velho e barrigudo.
— Você não se dá conta, não é? Você quer dizer: quando ficar ainda mais barrigudo?
— Pois é, formiguinha eletrônica, sou muito velho para você!
— Eu não disse nada!
— Depois diz que eu sou mascarado e que você é cristalina. Aliás, acho que você é recoberta por um leve verniz.
— Sou autêntica e sei o que quero. Gosto de leitura enquanto você tem preguiça mental.
— Ah-ha!...gosto de esporte e você tem preguiça física.
— Não suporto suas mentiras. Só neste ano você foi a três festas de aniversário de sua neta. Chegou a dizer que foi a um jantar com seu filho. E pensar que ele está nos Estados Unidos há cinco anos! Não, não, Amilton, não dá mais!
— À você, Lucila, o meu não às cobranças e o meu eterno adeus. Não quero maltratar meu coração já safenado.
— Seu coração é muito safado, isso sim ! E então, ô, ô, ô, ressonância magnética? De quem são estes telefones que encontrei em seus bolsos?
— São das minhas colegas!
— Cínico. Colegas são de trabalho. E você sequer trabalha.
— Já trabalhei muito. Sou aposentado, minha filha. E você que nunca recolheu INSS?!
— Não invisto em mixarias. Tenho bom gosto.
— Não com essa sacola ridícula que você usa para rechear carências.
— Você é cismado com minha sacola, não?
— E você com as ligações que recebo. Afinal, estas roupas sujas que você está colocando na mala é para a coitadinha da minha sogra lavar?
— As roupas sujas estou lavando neste momento com você.
— Realmente, Lucila, não temos nada em comum.
— Sentirei saudade, Amilton.
— Do quê?
— Do seu cheiro.
— Eu também sentirei saudade de acarinhar seus longos cabelos. Pois é, Lucila, que pena, não temos nada em comum!
— Não faz mal, mesmo à distância, sentirei você beijando com suavidade meu cangote. Ai, ai, ai, chuin, in, in.. me passe a bombinha.
— Eu também sentirei suas mãos macias em minha pele.
— Pois é, não temos nada em comum. Mas... cubra este peito peludo, tá?
— Está bem, mas não use saias justas. Nunca lhe falei nada, mas sua cintura é muito fina e fica desproporcional ao seu corpo. Você tem muito bumbum para tão pouca cintura. Use vestidos bem soltos, tá?
— Já vou, Amilton.
— Não. Sim, vá, não temos nada a ver um com o outro.
— Não querendo ser “achista“, também acho.
— Cuide-se, Amilton.
— Ai, ai, ai...
— Que foi, Amilton?
— Meu coração.
— Você está pálido!
— Você é burra mesmo, não?
— Amilton, você é capaz de morrer me xingando.
— Sua peste bubônica, não é nada físico, é a dor do amor. Entendeu? Eu a amo.
— Isto não me completa. Você é uma presença ausente em minha vida. Já estou indo. Ah... sim! Não, não, deixa pra lá.
— Diga logo, mosca entupida!
— Eu também o amo.
— Muito???
— Muito, muito...
— Eu também, minha lindinha! Afinal, existe algo acidentalmente, profundamente e maravilhosamente em comum entre nós: o amor. Amor ao ego.
(minha homenagem à doce amiga Lucila).