ENGENHO
Foi o peito primeiro que estufou, depois suspirou bem forte largando o ar para o céu, onde viu ainda a ponta final de um grande edifício. Logo os pés corriam em tênis pelo calçadão de pedrinhas portuguesas, sem se assustar com as raízes das arvores velhas plantadas no cimento. Pareciam enormes pés de animai antigos e colossais. É que dentre os obstáculos, que o impedia de chegar mais rápido, estavam vultos realmente perigosos.
À meã ele diria:
_ boa noite pai.
_ Boa noite, mãe.
Agora estava apenas dentro de um túnel iluminado, descendo por uma escada rolante. Outros vultos andavam para lá e para cá. Rostos sérios, enrugados pela ansiedade e pela tristeza. Indo e voltando, olhando o fim da linha, esperando a luz, o tremor no chão.
Veio, sempre vinha com muito barulho, trazendo alvoroço; abria suas portas como grandes asas que agasalha. Assim entrava-se embaixo, contudo era para dentro. Havia um grande segundo de acomodação, em que olhos estranhos pareiam quase se reconhecer. Recuavam humildes e com vergonha, às vezes escapava um sorriso inconseqüente, fora de hora.
Saia correndo do túnel. Pressa de que, olhando para trás como e os que saíssem de alguma forma o perseguisse.
Respirava um novo ar; outra calçada, mais quente, menos agitada. Passava carros, ônibus buzinava alto; barraquinhas coloridas de camelôs d onde surgiam rostos parvos de uma alegria tremula.
Parecia outra hora, outro tempo, uma nova idade sem nenhuma alteração. Era como um mundo novo, parecendo estar de volta depois de um longo tempo. Não ficara ausente mais que dez horas.
Cada dia parecia um mês, mas no balanço total um ano parecera se passar em uma semana.
Em casa parecia afinal o ponto de chegada. Os pais, um lá e outro cá, pareiam por breve instante surpresos, logo se moviam acostumados, viciados em avisar:
_ O jantar já está pronto – a fala da mãe.
_ Esperávamos você – a fala do pai, de frente a um aparelho de tv.
Jantavam calados. Cada um numa ilha. Os rostos sorriam, as expressões modificavam abruptamente, todavia cada um só percebia a si mesmo.
O quarto era morno, a cama acolchoada, e a comida fora boa. Outro dia logo recomeçaria. Já não tinha pés presos; os cabelos soltos no travesseiro branco. Os lençóis tinham perfume de amaciante. Viu-se deitado numa penumbra azul. Sorria para cima; completo, eterno. Sem saudade. Ansioso para recomeçar, mas desejoso de desligar um pouco, por isso encolheu-se e fechou os olhos, e ainda assim continuou vendo, sem saber s quando dormia descansava afinal.
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Rodney Aragão.