O PENSADOR EM SILÊNCIO

“... Sirvo melhor daqui onde estou. De onde minha mão sustenta o meu queixo e minhas idéias sobre os homens e o mundo ___ pensou “O Pensador de Bronze”. “... Tenho um cérebro de bronze invejável. Num sentido profundo, ele faz jus. Simplesmente por ele ser o que é e o que está por fazer e em que se transformou no decorrer de toda a história do pensamento humano”.

___ O que estais aí a pensar, minha cara estátua imóvel? ___ Perguntou o octogenário.

Nenhuma resposta. Nenhuma manifestação concreta da parte daquele homem pesado e pensativo, estacionado no meio da praça.

___ Em que se transformou moço? Num símbolo? De símbolos estamos cheios, saturados!

“Hipócrita! De onde vens esta tua arrogância? ___ Pensou a estátua em seu silêncio."

O octogenário olhou para os lados e não percebendo a presença de ninguém por perto, batizou aquele monumento mijando em seus pés. Fazia um esforço a mais do que o natural para que aquela água amarelada atingisse o alvo mais alto possível.

___ Agora sim, és alguém!

“O que está fazendo seu filho de uma gata parida? ___ Contestou irritadamente o pensador com a mão debaixo do queixo. ___ Eis o exemplo de quem sou! De um velho safado e porcalhão. Sou o símbolo de uma raça pensante e decadente. Que lástima! ___ Concluiu a estátua em seu silêncio profundo."

___ Ah, pronto, acabei. Na minha terra existe um ditado que diz: “no estrangeiro, as estrelas são também de estanho." Mas você não, é apenas de bronze. Mijei em muitos monumentos pela cidade, sagrados e profanos, mas nenhum de bronze. Toda manhã, os jovens desta cidade, depois de terem colocado sob o braço um caderno e o impermeável de seu uniforme, deveriam passar por aqui e reverenciá-lo desta forma. Bom, a conversa está muito boa, mas tenho que ir. Há outros lugares nesta cidade para se visitar. Adeus!

“A cidade é minha, e todos os homens que vivem nela. Não há lugar para ficar constrangido, não se presume que se tenha que apertar a mão de ninguém. Deus me proteja, Deus me livre, saudar uma pessoa nojenta quando a encontramos, mesmo que ela se deleite desdentadamente. ___ Pensou a Estátua, em contínuo raciocínio. " ___ “Se algum estrangeiro impetuoso apesar de tudo age a seu modo, no começo ele surpreenderá ___ que homem estranho, que bárbaro! ___ e depois o evitarão, não será reconhecido na rua”. Às vezes, é verdade, encontra-se uma boa alma, inclinada a fazer uma bela reverência, mas ela não abordará você senão em um lugar isolado, olhando em volta de si com um olhar temeroso, para o que tiver que ser feito, e desaparecerá para sempre depois de ter satisfeito a sua necessidade e curiosidade. Por isso, as vezes, o coração se enche de nostalgia, medo, dor, alegria, de sentimentos, sentindo que não é ali que se encontrará um verdadeiro amigo. Mas como não tenho um coração, sou apenas razão pura, num corpo de bronze, não tenho porque me envergonhar, mas sim os que o têm.

Adhemir Marthins
Enviado por Adhemir Marthins em 28/07/2009
Código do texto: T1724309