PASSEIOS DE MINHA INFÂNCIA

Quando eu era bem pequena tínhamos um amigo que tinha um pequeno caminhão.

Muitas vezes ele nos convidava para passearmos. Juntávamo-nos com uma família que morava perto de casa e lá íamos nós. Na cabine acompanhava-o minha mãe, a vizinha e os dois meninos menores. Meu pai também muitas vezes nos acompanhava. A criançada toda subia na carroceria do caminhão e eu seguia toda feliz no meio delas.

Quando o caminhão não “pegava” descíamos fazendo a maior algazarra e ficávamos observando-o girar a manivela. Então o motor ligava e subíamos de novo na carroceria.

Lembro que íamos todos muito alegres, com os cabelos ao vento, cantando canções populares.

O nosso amigo dirigia cuidadosamente. Vez ou outra perguntava aos gritos, para que pudéssemos ouvi-lo, se estava tudo bem conosco.

O caminhãozinho ia sacolejando pelas estradas de terra e nos divertíamos muito mesmo.

Todas as estradas que circundavam a nossa cidadezinha eram muito arborizadas e tínhamos vistas lindas. Eram vales, planícies, morros...

Avistávamos cascatas, atravessávamos pontes, mata-burros, víamos algumas sedes de fazendas magníficas, choupanas de beira de estrada.

Na primavera sentíamos o perfume das flores pela estrada toda. Como havia muitas plantações de laranja quando passávamos pelos pomares sentíamos aquele perfume delicioso de flor de laranjeira.

Geralmente íamos a córregos de águas transparentes para brincarmos na água.

Fazíamos piqueniques em recantos que adoro fechar os olhos e imaginar-me neles de novo porque eram tão deliciosamente frescos, tão encantadoramente naturais, selvagens até.

Certa vez o nosso amigo nos levou a uma lagoa para nadarmos. Estávamos em dez ou doze pessoas, na maioria crianças. De adulto só havia minha mãe, a vizinha e ele, que na época contava uns vinte e cinco anos.

Ele estacionou o velho caminhãozinho um pouco longe da lagoa, porque não havia acesso a ela.

Descemos todos cantarolando e rindo. Atravessávamos a pradaria que nos separava do grande lago quando um enorme touro surgiu do nada.

Ele vinha de cabeça abaixada em nossa direção e só me lembro que nunca corri tanto na vida como naquele dia.

Sei que pulamos de volta a cerca de arame farpado que havíamos cuidadosamente atravessado antes e nos arranhamos um pouco.

A cerca deteve o gigantesco animal, ainda bem, porque senão talvez hoje eu nem estivesse aqui para contar esta história. Depois de termos descansado um pouco e diminuído as batidas cardíacas que haviam se elevado assustadoramente acabamos encontrando um outro caminho para nos levar a tal lagoa.

O susto foi grande, mas não estragou o nosso passeio, porque nos divertimos muito naquele dia. A lagoa possuía uma água morna, limpa e uma vegetação cobria todo o seu fundo.

Também quando fecho os olhos agora posso sentir ainda na pele a sensação daquela água, dos ramos que se balançavam quais cabelos no fundo d’água e roçavam minhas pernas.

Com o passar do tempo o nosso amigo vendeu o caminhão e íamos passear a pé. Como era bom também! Caminhávamos horas seguidas para chegar aos lugares que costumávamos ir antes.

Foi dessa forma que acabamos conhecendo lugares muito aprazíveis nas vizinhanças de nossa pequena cidade.

Todos nós, que participamos dessas aventuras, guardamos no coração lembranças muito prazerosas daquele tempo e gostamos muito de recordá-las.

Soninha

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 16/01/2005
Reeditado em 24/03/2011
Código do texto: T1723
Copyright © 2005. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.