A Velha
O telefone tocou, ela odiava quando o telefone tocava. Levantou-se da sua cadeira de balanço e foi atender:
- Alô?
Silêncio do outro lado da linha.
- Alô?
Alguns risos puderam ser escutados ao fundo.
- Se não ia falar pra que ligou?
Ninguém respondia. Ela desligou. E saiu resmungando.
- Essas crianças de hoje em dia não tem o que fazer.
Respirou fundo, balançou a cabeça negativamente e continuou:
- Esses pais de hoje em dia que não sabem educar seus filhos, no meu tempo, traquinagem era sinônimo de palmada, do famoso bolo.
Sentou-se em sua cadeira de balanço e recomeçou a tricotar, pensando em como o tempo havia passado, e como as marcas do tempo eram cruéis.
Alguns minutos depois o telefone tocou de novo. Impaciente ela levantou, atendeu e ficou muda, do outro lado da linha, mais risos. Permaneceram assim por cerca de 5 minutos, quando ela desligou o telefone, arrancou a tomada, foi até a porta da casa com o telefone na mão, olhou pra a casa ao lado e gritou:
- Agora vocês não irão mais me perturbar.
As crianças, de longe, observavam tudo e se divertiam com a cena. Elas não poderiam imaginar o que iria acontecer. Na mesma hora a velha vizinha foi até a casa das crianças que estavam sozinhas em casa com a babá. A porta estava aberta, a velha entrou subiu as escadas calmamente.
As crianças brincavam no quarto de brinquedos, a babá havia descido para pegar o lanche. Era o momento perfeito. Toda vestida de branco, com a cara toda branca de pó de arroz, a velha, pálida, entrou no quarto, assustadas as crianças ficaram imóveis. Foi quando a velha falou:
- A brincadeira de vocês me matou, de tanto descer e subir escadas para atender ao telefone, meu coração não resistiu e parou de bater.
Assustadas, as crianças não esboçavam qualquer tipo de reação. Calmamente, ela foi saindo do quarto, a babá estava subindo, ela se escondeu no quarto ao lado. Esperou pacientemente, quando viu que o caminho estava livre saiu da casa sem ser vista. Daquele dia em diante, nunca mais um trote foi passado para sua casa.