Reflexão do Ser
Preciso penetrar-me nessas palavras vãs para assim começar o fio da meada. Ouço vozes que gritam, ouço uma música que insiste em tocar melosamente. Também vejo letras, que se sobrepõem em letras e formam frases, frases essas com sentido vago. Nada ainda é certo no início. O inicio de tudo sempre é difícil, o fim então seria o ápice? Talvez por isso minha preferência sempre foi o fim, de tudo. Esvaziar-me-ia da vida e seria enfim explendor. Seria meu inicio-fim.
Veja bem, comecemos a falar do que é díficil e o porque é difícil. O inicio de tudo é a impressão elementar da existência. É se sentir vivo, é poder se elevar até em sétimo sentido, é querer a vida, marcada, existida. Quando começa alguma coisa, sei lá de que, primeiramente se é. E aí começa será que é? Terá destino? Terá um fim? Quando se existe todos são. Pode gerar dúvidas, tudo é tão ao acaso no início. E porque difícil? O início personifica o ser em símbolo. O início dá medo. Tudo é tão inseguro. Fico analisando com cuidado as palavras a serem postas. Não tenha medo, mas o inicio é. Personificado, o ser não se flexiona, não se conjuga na sua própria arte conjugal, conjugante. O ser se mantem preso a forma ser e existente em si não possui a dádiva que o torna apto a vida. Porque assinalado, o ser se torna poça estancada enquanto seu curso se vai, gerando vida, água limpa que alimenta a alma e faz dela ser. Estancado o ser continua ser, sendo ser errante, sendo sertão da alma. Aí mora o problema, pois sendo ser, a alma é esvaziada de sentido, não gera vida, pois se não é alimentada e logo não se conjuga.
Eu não sou. Tu és? Não é? Nós somos ou não? Eles que são ou realmente eu-tu és e juntos somos? O ser só consegue ser, se for conjugado, pareado. E porque ser não pode ser? É irregular? Se for, que seja. Ser é. É a forma divina do paradoxo: se chama ser e não é; se chama ser e não pode ser, será ainda um dia ser, ele que é? Ainda é poça estancada? É poça estancada porque tiraram seu caminho, porque tiraram a essência, porque cortaram a fonte. Lá jorrava a alegria, alimentava a alma e tornava capaz de ser auto-ser e se dinamizar, conjugando ser com ser dando tudo um verdadeiro sentido, uma vez que só quando se é com é que se é, só quando ser é múltiplo é que ele possui a singularidade que o faz ser vivo, dignamente sendo. Ser é díficil. Sim, é o início da criação. Você nasce tendo um nome, tendo uma obrigação, tendo que crescer sabendo o que vai ser, quando já se é. Já se sabe. Tudo é e acontece numa constância descomunal, simplesmente sendo. Não há razão de ser para o ser, enquanto ele se busca em outros verbos ser, personificado em ser pra ser o que ele mesmo é, pois não é ser. Ser necessita de ser entendido, precisa de ser e ter, precisa mesmo que se for ser, manter sua essência ser, mesmo que um dia ele seja, era, for. Pois o ser também é.
Ah! Eu estava pensando nos grandes riachos, nas nascentes. Dali brota tanta vida... Água que forma correntezas valentes, sem medo do seu destino, sem medo de ser correnteza, corrente que emana vida e não o não-ser. Essa é a verdadeira vida de uma correnteza. Ela corre sem medo de ser, mesmo no inicio, ela mesmo é e se basta a ela mesma. Livre, e porque livre talvez seja enorme na sua finalidade existencial. Seu fim, o fim da correnteza é o inicio, se conjugam em um eterno ser que mantém o espetáculo divino, o ciclo - arte inspiradora de poetas.
É tanta emoção que não dá para parar de ser, mesmo não sendo. Não se interrompe um texto para dá-lo um fim, pois há fim? Não. É tudo início-fim. Quando se pensa que é fim, é o início e quando é início é fim. Esse texto só há fim quando o ser, se libertar de si próprio e deixar se ser ícone, deixar de ser. Como? Só a vida e seus mistérios saberão como isso pode ocorrer. Provável, só ocorre quando há o desgaste, e que já está, sempre, próximo, pois é tanto é é é, ser, ser que já não sei mais o que é ser eu ou ser conjulgado, posto a vida dando vida, gramaticalmente, semanticamente, vivenciando o mundo errado.
E por aqui, faço meu ultimo paragrafo ou como queira chamar desse texto sem início-fim, pois há continuação... Há vida não há? Resquícios mas há. Cabe a cada ser, instigante, massacrante, entender a própria natureza simplória de ser por ser, ser porque se é, porque se gosta de ser. Tu és porque és vivo ou na verdade és e já morreu? Me lembro claramente das palavras conhecidas de Veríssimo que diz o seguinte: Pois embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu. Entenda a beleza da vida, ser nunca é e nem nunca será regular. É tão complexo, é tão diverso. Isso me faz gozar de satisfação, pois gosto disso, do que é, do que não é, do que poderia ser, do que faça ser. Gosto do ser flexionado, unido à outros verbos, unido à seu outro ser (sim, o que é real). Nunca se entenderá o ser. Mas saibamos de uma coisa: Enquanto não somos seres capazes de flexionar nossa própria natureza humana, seremos apenas seres, tão iguais que se perde o sentido, se perde a presença. A presença que o próprio ser extermina...