EU E AHAB!
E a noite esta alta e sua escuridão assola o meu pensamento e oprime o meu coração! Estou deitado no sofá da sala,com a mão sobre o peito, sentindo o descompasso que se agita dentro dele.
O dia foi uma sucessão de aborrecimentos, e teve momentos que eu queria dizer não!
Eu estou cansado, meu corpo reclama repouso, mas o sono vem e vai...
O travesseiro antes tão amigo, parece estar repleto de espinhos!
E eu choro e sofro, calado...
Pensamentos revoltos!
Minha vida é uma nau a deriva, sob um céu escuro, sobre um mar raivoso, que me joga de um lado para o outro!
O sono todo picado, trouxe ainda á pouco um pesadelo horroso...
Eu estava comandando uma nau, mãos pregadas no timão, gritando ordens que não eram ouvidas, sob a tempestade que caia...
E a nau a deriva, parecia ser o meu fim!
E as ondas vinham furiosas e sem medida, açoitando-me por inteiro, e meu corpo então combalido, parecia já estar conciente de seu fim, tão próximo, que o seu gélido abraço, seu desdentado sorriso, já tinham ares de amigo!
Lembrei o sonho, lembrei de Ahab!
Foi como se ele estivesse comigo!
E as suas batalhas insanas contra a natureza, sua gana em vencer a tal baleia, por um instante pareciam comigo e os meus objetivos nesta vida!
Será que eu teimei tanto quanto Ahab?
E as lutas empreendidas, foram as mesmas dele, foram parelhas as nossas histórias de vida?
Compartilhamos de uma mesma razão e de uma mesma loucura desmedida?
Mãos ensanguentadas apertando o timão, procurando uma direção que não se apresentava!
A nau rangia!
Meu corpo todo doia!
A garganta sem som...
A noite escura e infinita!
As ondas como açoites, abrindo em meu corpo, e no corpo de minha nau tantas feridas...
Era o fim, o fim de minha vida!
Um som dantesco, o tombadilho se vergando, tudo o que estava solto voando, o mastro se quebrando, velas ao mar...
Era o fim de tudo, meu mundo tão concreto estava se esfarelando...
Estava submergindo naquelas águas...
E bem no fim de tudo, um vulto branco, qual um fantasma passa ante mim para desaparecer rapidamente no nada!
Ahab encontrou no fim a sua baleia!
Meus olhos estatelados, abertos na loucura, imersos nas águas escuras...
Ar!
Meu pulmão precisa de ar!
Ar!
Entrando em meu ser de forma dorida!
Como sentir-se vivo pode doer assim...
Ahab encontrou a sua baleia!
E a minha?
Eu ainda não me encontrei com a minha!
E eu aqui, sozinho no desalinho do improvisado leito, reclamo uma luz nesta hora, tão escura!
Não tem ninguêm ao meu lado...
Meus braços não enlaçam ninguem...
A amada, se diz não amada!
Mau amada!
Os filhos estão dispersos... Minhas sementes estão dispersas na vida...
Minhas palavras sem encontrar eco, fazem a nau da minha vida estar desgovernada!
E as direções que minhas mãos ensanguentadas tentam imprimir á nau, não me levam a nada!
Só as profundezas dessas escuras águas...
A nau afunda!
O oceano escancarra a sua boca d'água!
Um vulto branco passa ante meus olhos e some... Enquanto a minha visão se apaga!
Nesta hora acordei...
Imerso nas águas de minha própria transpiração...
Mãos tremulas, passam sobre meus cabelos em desalinho...
Um gosto amarga a minha boca...
Eu estou louco!
A minha amada esta louca!
Meus sonhos e meu amor não são loucuras.
Minha luta não é uma baleia branca secular, mas é a secular procura pelo amor e paz...
Minha visão mal se acostuma com a escuridão da sala, meus ouvidos com o silêncio ao meu redor, quando um súbito clarão... E um som!
- Vamos conversar! Ela fala!
É agora... Tem que ser agora...
As profundezas das águas ou a tão esperada salvação!
Edvaldo Rosa
18/07/2009