As aventuras de Tonico (1) - Um Poema Para a Velha mestra
Meu apelido quando menino - detestável apelido - era Tonico. Meu é nome de batismo é Antonio e por quê - eu me perguntava, transido de raiva - não me tinham apelidado de Tonho, Toninho ou coisa parecida? O nome lembrava o jeca-tatu, o capiau, e chamar-me assim era um convite para uma boa briga. Eu o aceitava sem revides mal-educados somente em se tratando da minha mãe, padrinho e madrinha, irmãos e parentes mais velhos. No máximo, também, eu o permitia às namoradinhas do bairro, já que elas, morando perto da minha casa, acostumavam-se a me tratar por esse abominável apelido.
Menino de pavio curto, jeito atrevido, debochado e irreverente, capaz de grandes gestos de amor tanto quanto de arrebentar a cabeça de um desafeto a pedradas, de tanto chorar pelo seu cachorrinho doente quanto de amarrar latas nos rabos dos gatos - amado e odiado por vizinhos, parentes, professoras, colegas e amigos, mas jamais despercebido - o Tonico nunca foi embora da minha personalidade.
Assim que atingi a idade adulta - nem sempre a idade da razão - Tonico passou a representar a parte da minha personalidade que eu precisava manter sob controle - a parte impulsiva, safada, temperamental ou perigosa. Nem sempre consegui essa façanha, de modo que vou contar para vocês algumas aventuras do Tonico, desde criança até hoje - quando o danado ainda às vezes aparece e, pasmem, já de cabelos brancos!
Mas, como esta é a primeira parte, nada melhor para deixar os meus leitores mais indulgentes com as diabruras do Tonico que o meu poema "Sextilhas da Velha Mestra", escrito em 1984, que narra uma das mais marcantes aventuras da sua vida!
SEXTILHAS DA VELHA MESTRA
Curvada pelo peso dos anos, a velhinha
Caminha lentamente à minha frente;
Passo difícil, certamente, mas a sustinha
Aquela força invisível, aquele ânimo profundo,
Que o enfrentar das tempestades dá ao navegante
Dos mares sem deuses deste mundo!...
Parou, pensando atravessar a rua, hesitante;
Aproximei-me e, solícito, tomei-lhe a mão,
E ela se deixou levar, confiante.
No outro lado, fitou-me, e com um brilho
Novo no olhar, exclamou, sorridente:
-"Mas, Tonico! És tu, meu filho?"
Era Dona Concita, a minha mestra do primário!
Era a velha professora a lembrar-se
Trinta anos anos depois - fato extraordinário! -
Do meu apelido familiar, detestável apelido,
Que o garoto de outrora abominava, mas que o homem
De hoje, agora ouvia, profundamente comovido!
(São Luís do Maranhão, 12/10/1984)
Meu apelido quando menino - detestável apelido - era Tonico. Meu é nome de batismo é Antonio e por quê - eu me perguntava, transido de raiva - não me tinham apelidado de Tonho, Toninho ou coisa parecida? O nome lembrava o jeca-tatu, o capiau, e chamar-me assim era um convite para uma boa briga. Eu o aceitava sem revides mal-educados somente em se tratando da minha mãe, padrinho e madrinha, irmãos e parentes mais velhos. No máximo, também, eu o permitia às namoradinhas do bairro, já que elas, morando perto da minha casa, acostumavam-se a me tratar por esse abominável apelido.
Menino de pavio curto, jeito atrevido, debochado e irreverente, capaz de grandes gestos de amor tanto quanto de arrebentar a cabeça de um desafeto a pedradas, de tanto chorar pelo seu cachorrinho doente quanto de amarrar latas nos rabos dos gatos - amado e odiado por vizinhos, parentes, professoras, colegas e amigos, mas jamais despercebido - o Tonico nunca foi embora da minha personalidade.
Assim que atingi a idade adulta - nem sempre a idade da razão - Tonico passou a representar a parte da minha personalidade que eu precisava manter sob controle - a parte impulsiva, safada, temperamental ou perigosa. Nem sempre consegui essa façanha, de modo que vou contar para vocês algumas aventuras do Tonico, desde criança até hoje - quando o danado ainda às vezes aparece e, pasmem, já de cabelos brancos!
Mas, como esta é a primeira parte, nada melhor para deixar os meus leitores mais indulgentes com as diabruras do Tonico que o meu poema "Sextilhas da Velha Mestra", escrito em 1984, que narra uma das mais marcantes aventuras da sua vida!
SEXTILHAS DA VELHA MESTRA
Curvada pelo peso dos anos, a velhinha
Caminha lentamente à minha frente;
Passo difícil, certamente, mas a sustinha
Aquela força invisível, aquele ânimo profundo,
Que o enfrentar das tempestades dá ao navegante
Dos mares sem deuses deste mundo!...
Parou, pensando atravessar a rua, hesitante;
Aproximei-me e, solícito, tomei-lhe a mão,
E ela se deixou levar, confiante.
No outro lado, fitou-me, e com um brilho
Novo no olhar, exclamou, sorridente:
-"Mas, Tonico! És tu, meu filho?"
Era Dona Concita, a minha mestra do primário!
Era a velha professora a lembrar-se
Trinta anos anos depois - fato extraordinário! -
Do meu apelido familiar, detestável apelido,
Que o garoto de outrora abominava, mas que o homem
De hoje, agora ouvia, profundamente comovido!
(São Luís do Maranhão, 12/10/1984)