O TUPINIQUIM.

Seguiu lento em meio a uma multidão de pessoas que se esbarravam umas nas outras. Caminhou cansado, no centro da cidade, arfando esquálido, resultado de um resfriado mal curado, mas, mesmo assim, seguiu em frente. Seus joelhos doiam, tornozelos ardiam, todas as articulações rangiam como se sem óleo estivessem. Sem líquido lubrificante nas dobras. Dobrou o passo, chegou ao destino. Triste destino do homem que trabalhou a vida inteira, desde os quatorze anos em uma oficina de ourives, também cursando o "Admissão ao ginásio. Estudou e trabalhou, foi assim a vida inteira, ao longo de toda a vida, ao longo do caminho que percorreu, estudou e se meteu a estudar Enfermagem, quando seu forte era o estudo da língua portuguesa..., forte é modo de dizer..., foi o menos pior.

Matemática deu náuseas,

Geografia diarréia,

Inglês esquecimentos,

História cefaléia.

Voltando à "vaca fria", após chegar ao destino final, apesar da gravata quase enforcar o coitado por estar o nó muito apertado,

o indivíduo entrou em uma fila na quadragézima terceira vara do trabalho e ao ser perguntado pelo atendente, qual o número do processo, após indicar, foi-lhe dito que os referidos autos não foram encontrados nos arquivos do cartório. Apesar de achar aquilo um absurdo o causídico lembrou que em anos anteriores, fez em torno de duzentas audiências que versavam sobre diferenças de adicional de insalubridade, causas de trabalho insalubre, prejudicial à saúde, saúde prejudicada pela exposição a substâncias nocivas ao organismo e todos os processos foram encontrados. Preso ao organismo dos partidos políticos, especialmente o da situação, verve de político de si mesmo, cheio de medos e dúvidas, dúvidas e certezas, pensou em rabiscar nos papéis os elementos e alimentos da alma. Viajou em sonhos e literalmente tropeçou em Brasília, curtiu a natureza em Aracaju, dançou em Goiânia, brincou em São Paulo, dormiu em Porto Alegre, acordou em Vitoria, cambaleou nas praias de Jacareípe, Marataízes, Piúma e Guarapari, se enlevou em Belo Horizonte, sonhou com Manaus, morreu um pouco mais no Rio de Janeiro.

História de um tupiniquim homem,

Com mais de meio século de idade,

Que a vida e o amor consomem,

Mas que não vive só de saudade.

Por: Jaymeofilho.

15/07/2009.