Alô!...

No escritório, Fernando dava seguimento aos trabalhos administrativos.Estava muito preocupado com a conclusão das suas tarefas, haja vista, aquele ser o momento mais embaraçoso de sua vida, com um trabalho daquela envergadura.E justamente naquele dia, quando o sol nascia sob lágrimas de inverno, justamente naquele momento que ele estava compenetrado, no fio da meada, o telefone tocava. Luciene, a advogada do local atendia dizendo ao seu subordinado que aquela ligação era para ele.Despretensiosamente despreocupado, ele, paulatinamente pega o aparelho e diz:

- Alô!...

Do outro pólo da ligação sua filha lhe informa, sob um doido pranto:

- Pai a mamãe morreu!...

Por um segundo parecia que o céu viria a tona, o chão firme, a cada segundo do pensamento se desfazia.Tudo ficara parado no tempo e ele pedia que sua filha se acalmasse dizendo, como se fora um amparo, um conforto, que iria até a casa dela naquele momento.

Luciene que ouviu e entendeu a situação em desespero disse:

- Calma Fernando eu vou com você.Eu dirijo o seu carro.

Replicava ele: - não se preocupe estou calmo.

Fernando não vivia mais com dona Sara, mas tinha uma grande admiração.Saiu correndo em direção ao seu carro pensando, pensando em ser útil, em ser alguém para fazer a diferença, no que dizia respeito as suas filhas.Enquanto sua amiga Luciene lhe acompanhava feito cavaleiro da Távora redonda.Quando chegou a casa da sua ex-esposa estava um alvoroço de pessoas. O clima não poderia ser outro e lá as suas filhas o cercaram chorando, como a pedir um abraço.

Sem muito o que dizer suas mãos foram mais que um lençol numa noite de inverno.sua boca seca, seu sorriso amarelado e seu coração atônito rendiam forças aquela hora desesperadora.

Havia no ar um sem par de gritos.Ninguém ainda que tivesse noção jamais poderia substituir qualquer ação.

A filha mais velha maldizia a Deus e se fazia uma série de perguntas sem respostas.A caçula se escondia com a sua gatinha sobre a cama, enquanto a multidão com seus olhos ignorantes julgava e já condenava aquele pai, por ter se separado da mãe.

Não era dia para julgar, não era hora para amargar...

Um pesar com sabor de vingança.Aquelas crianças precisavam da proteção e não presenciar a hostilizarão de um povo contra o seu pai.

Foi assim que se seguiu até na velação do corpo.O Pai não podia vir velar, pois era a vontade da mãe.

Se quisesse poderia ir ao velório, lá podia entrar quem quisesse.

E no dia que o corpo segui ao seu destino final. Ainda se via notada soberba, antipatizações, provocações e a certeza, de que quando o pai tentou abraçar as suas filhas foi impedido pelo povo, como se fosse o senhor, responsável por aquele aparente mal.

Ao final da tarde, Fernando calado saia pelo outro lado do cemitério, quando de repente suas filhas gritaram:

- Pai a gente te ama!...

E as lágrimas presas no peito daquele sujeito começaram a debulhar no chão, dado a inconsistência das acusações injustas, que olhando para o céu respondeu:

- Filha!... Eu nunca deixei de amar você.E seguindo o horizonte, na sombra da tarde, naquele dia, ele desapareceu.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 14/07/2009
Código do texto: T1699374
Classificação de conteúdo: seguro