Um acidente de moto
Em recente final de semana, estando eu e minha esposa desfrutando de um passeio com meu filho e nora pelas rodovias paulistas, vim a passar por uma experiência por demais desoladora, dentro da cidade de Mogi Mirim, que simplesmente me deixou bestificado, descrente mesmo do gênero humano, porque foi um espetáculo muito deprimente, o bastante para perdermos o sono naquela noite.
Ao passarmos por uma avenida, deparamos com o que parecia ter sido um acidente de moto, mais precisamente, talvez, o atropelamento de uma mulher por um motoqueiro. A nossa incerteza do que poderia ter acontecido é que percebemos o movimento estranho na passagem pelo local e, até nós interpretarmos como sendo algo em que poderíamos ser úteis, tivemos que primeiro ir até uma próxima rotatória, para então retornarmos, pelo outro lado da avenida, o que levou um espaço de tempo, o suficiente para já haver dois carros parados no local, com pessoas tentando ajudar.
Meu filho, embora esteja longe de ser um paramédico, por ser um homem de 46 anos e de possuir curso e treinamento de primeiros socorros, já passou por muitas experiências de assistência a acidentes dos mais escabrosos, tanto em estradas como em perímetros urbanos, razão pela qual ele já chegou tomando a iniciativa de se certificar do que havia acontecido e o que o pessoal estava tentando fazer com a vítima, ou vítimas, e principalmente se alguém ali presente teria chamado o resgate ou não. Qual não foi a sua surpresa quando constatou que os presentes tentavam levantar uma garota, visivelmente machucada, aparentando não ter mais do que 15 anos, para colocá-la em um dos carros, com a intenção de transportá-la até o hospital mais próximo – tudo bem que eram pessoas tentando fazer algo para ajudar, embora demonstrando grande ignorância com relação aos procedimentos básicos de assistência a acidentados – qualquer um, habilitado a dirigir, sabe que não se toca na vítima, senão apenas para colocá-la em posição a mais confortável possível, logo após chamar-se socorro especializado, pois o atendimento incorreto pode provocar agravamentos e sequelas, ou até a morte. No caso da mocinha, meu filho pôde constatar que ela teria sofrido um possível deslocamento da bacia, portanto o recurso do momento seria somente o de mantê-la imóvel, deitada no chão, até a chegada do resgate, mas nunca tentar removê-la do local.
Muito bem, agora vem a “bomba”: aqueles indivíduos, que pareciam tão preocupados em ajudar, apenas tentavam encobrir um crime de tentativa de homicídio culposo, por parte do piloto da moto! Vejam que o rapaz levava na garupa a menina, em alta velocidade pela avenida, vindo a se chocar com um pequeno poste de ferro, que se encontrava na calçada, sendo os dois arremessados à distância e, segundo uma senhora idosa, que havia presenciado o acidente no ato, a menor literalmente voou por cima dele, indo se estatelar no solo. Acontece que o rapaz, além de não ter habilitação, nem era o dono legítimo da moto, e levava na garupa uma adolescente, o que caracteriza uma total irresponsabilidade criminosa por parte desse alienado. Para piorar as coisas, ele acabou por encontrar “cúmplices” que estavam arrumando uma saída, querendo alegar que ela tinha sido atropelada por um veículo que se evadiu, essa a razão da preocupação em carregá-la para um hospital, em lugar de chamarem o socorro – é a mentalidade suja, própria de marginais.
Enojado com tanta desfaçatez, ainda mais que o “piloto” da moto, juntamente com mais um outro, estava fazendo o possível para apagar as evidências, empurrando o veículo acidentado para longe do local, meu filho então resolveu tomar a pulso a situação, chamando o resgate e impedindo, energicamente, que a “cambada” consumasse o ato de barbarismo, ao que todos, surpreendidos, acabaram por obedecer e começaram a bater em retirada, um pouco antes da ambulância chegar, lógico, com medo de correrem o risco de se “enrolarem” com a polícia. _Quanta demonstração de covardia, insensatez, desamor, burrice e irresponsabilidade!
“Cada um por si e o resto que se dane” – essa é a máxima dos ignóbeis, pensando que estão sendo espertos, quando na verdade serão eles mesmos as próximas vítimas, com certeza.