"O ESQUECIDO" Conto de: Flávio Cavalcante
O ESQUECIDO
Conto de:
Flávio Cavalcante
Prometia muito o namoro do Tonho com a Marlete. Um belo casal de namorados. Apenas um empecilho dificultava aquele romance de todos os dias. Aliás, eram dois empecilhos. Um, era a distância que Marlete morava e o outro era um problema que o namorado tinha de esquecer demais das coisas. Tonho já era conhecido na cidade onde morava por causa de seu esquecimento. Pra se ter uma idéia; um dia, ele saiu de bicicleta pra comprar cigarro; entrou na venda de seu Mário e quando saiu, voltou pra casa á pé e só veio lembrar onde tinha deixado seu meio de transporte três dias depois, porque um amigo veio devolver.
Assim era a vida de tonho. Esquecia de tudo com muita facilidade e freqüência. Os amigos até brincavam com ele dizendo. “QUERO VER SE O TONHO ESQUECE DE CORMER”. O outro amigo engraçadinho também não quis deixar por menos e também não deixou de tirar sua casquinha de zombaria dizendo... “SERÁ QUE TONHO ESQUECE DE FAZER SEXO?” Todos gargalharam; mas, Tonho sempre foi pacato e nunca deu ouvidos a este tipo de brincadeira, até porquê ele tinha convicção de que se tratava de uma grande verdade e precisa de um tratamento com urgência.
A ida até a casa da Marlete sua namorada era um tormento na vida do rapaz. O caminho era uma verde mata fechada onde Tonho passava horas por entre o matagal.
Outro ponto comum de conhecer o nosso protagonista na cidade, era o seu guarda-chuva que o próprio carregava pendurado em seu braço como num cabide. Ele não largava aquele artefato por nada para não esquecer. Isto porquê, pelo fato dele andar horas e horas dentro da mata, quando chovia não tinha onde procurar abrigo e aquele guarda-chuva o protegia e era a garantia de chegar na casa da namorada em perfeito estado para o romance. Assim era a vida de Tonho e seu guarda-chuva. Companheiro inseparável.
Vários médico tentaram resolver o problema do Tonho mas ninguém nunca conseguiu. Contam até que um dia ele foi ao hospital e quando chegou na porta não sabia o que estava fazendo ali. Voltou pra casa e quando chegou seu pai disse “JÁ VEIO DO CEMITÉRIO?”
Tonho retrucou de imediato. “Cemitério?” Pensou no que ia responder; pois ele não tava conseguindo lembrar do que se tratava e pra se sair numa boa ele resolveu responder na lógica. “CLARO... EU FUI LEVAR FLORES, MAS OS PORTÕES DO CEMITÉRIO TAVA FECHADO”. Bastou falar essas asneiras para o pai entrar em quase estado de loucura. “QUE PORTÕES ESTÁS FALANDO?” Interrogou o pai de Tonho já enfezado com ele. Tonho começa uma sessão de gagueira, mistura alho com bugalho e no final não consegue falar mais nada. Diz o pai já tomado de raiva do rapaz. “EU ESTAVA ATÉ AGORA ESPERANDO O AZULEJO PRA TERMINAR O BANHEIRO... EU FALEI PRA COMPRAR O AZULEJO NO CEMITÉRIO DOS AZULEJOS. ESTE PISO É ANTIGO”. Bom. O rapaz podia ter entendido errado e aí acabou cometendo essa gafe. Tonho sofria que só um condenado por causa dessa deficiência que carregava com uma cruz até o calvário.
Na estrada que Tonho caminhava ao encontro da Marlete para dar e receber carinho da cabrocha apaixonada, teve que fazer um caminho só pra ele pra não se perder até a casa da namorada. Várias vezes chegou no meio da mata e acabou voltando pra casa sem saber o que estava fazendo ali.
Um belo dia. Tonho se preparava para ir ao seu encontro corriqueiro, jogou perfume forte intensamente no corpo, pôs sua melhor roupa, pegou seu guarda-chuva que era de praxe e saiu. Entrou na mata falando consigo mesmo “VOU SEGURAR ESSE GUARDA CHUVA PRA NÃO ESQUECER. O TEMPO NÃO TÁ MUITO BOM”. Segurou fortemente no artefato e continuou a sua viajem. Depois de meia hora de caminhada, Tonho começou a sentir algumas cólicas abdominais. “TOU COM DOR DE BARRIGA” Pensou ele o que tinha comido no almoço e o pior, não conseguiu lembrar.
As cólicas começaram a aumentar e Tonho estava no meio do mato suando frio e de olhos arregalados procurava uma moita pra se aliviar daquela dor de barriga que o fazia se contorcer até o chão. As cólicas estavam em alta e Tonho muito preocupado aonde colocar o guarda-chuva com medo de esquecer em algum lugar. “ONDE EU VOU BOTAR ESSE GUARDA-CHUVA?”. Pensou ele procurando um lugar.
As dores já passavam dos limites e a qualquer momento estava preste daquele rapaz despejar um rio bosta no meio daquele matagal. Ele não estava agüentando mais. “JÁ SEI! VOU COLOCAR O GUARDA CHUVA PENDURADO NO GALHO DESSA ÁRVORE PRA EU NÃO ESQUECER” e assim foi feito. Pendurou-o no primeiro galho que encontrou, desabotoou suas calças e as arreou até os pés, mas sem tirar o olho do guarda-chuva para não esquecer. Tonho gemia que só um bezerro novo. Ficou mais de meia hora prostrada no meio daquele matagal tentando o ápice do alívio. Por um momento de descuido natural nem deu conta mais do guarda-chuva. Terminou e se levantou. Bateu fortemente a cabeça no guarda-chuva. “EITA! DEIXARAM UM GUARDA-CHUVA AQUI... VOU DEIXA-LO BEM VISÍVEL PRA NÃO ESQUECER. E assim fez, segurou-o fortemente em seus braços, dando um passo para trás, pisando num monte de dejetos dele próprio. “É FODA! É UM FELA DA PUTA ESSE CARA QUE CAGOU AQUI” olhou pro guarda-chuva e a ficha caiu. “AGORA TOU ENTENDO TUDO! O CORNO QUE CAGOU AQUI, DEIXOU O GUARDA-CHUVA PENDURADO”. Olhou para baixo e suas calças estavam arreadas. “ESTOU DE CALÇAS ARREADAS! ESTÃO QUERENDO COMER O MEU RABO! NÃO VEM QUE AQUI NÃO TEM. Mete a mão tapando a bunda, sujando os dedos de bosta. Levanta a roupa e sai direção a casa da Malete que já o esperava preocupada. Tonho chegou á casa muito sorridente. “EU JÁ ESTAVA PREOCUPADA” Disse Marlete com expressão muito séria.
Muito amavelmente Tonho entrega o guarda-chuva para Marlete. “TROUXE UM PRESENTE PRA VOCÊ, AMOR”. Sem entender nada a garota responde “PRA MIM? SEU GUARDA-CHUVA?” Não é meu, disse o tonho todo empolgado e em gargalhadas. “FOI UM CORNO QUE CAGOU NO CAMINHO E DEIXOU PENDURADURADO NA ÁRVORE... EU ACHEI AGORA SOU DONO”. Com um sorriso entre os lábios meio de lado, até porque ela sabia que o guarda-chuva era dele mesmo. Mesmo assim para não constranger, acabou aceitando. Conversa vai e conversa vem, começa então a sessão de carícias na cabrocha e ao passar a mão no rosto da namorada, tonho percebeu uma rejeição na sua face. “UÉ... NÃO GOSTOU DE MEU CARINHO?” Ela respondeu de imediato “FEDENDO A COCÔ?” Tonho percebe que seus dedos estavam cobertos de bosta e com cara de bobo corre pro banheiro pra lavar as mãos sujas.
Moral da história. Até hoje Tonho não sabe como sujou as mãos da porcaria dele mesmo.
FIM