O trajeto

- Estação Primavera.

Ela abriu os olhos e olhou para fora, e viu que à beira da estrada havia um sem número de flores sob um céu brilhante povoado de nuvens altas. A imagem era bela e nova. O sol havia acabado de nascer, e o horizonte alaranjado chamou sua atenção. A temperatura estava amena e tudo a convidava para descer, mas ela se sentia um pouco fraca, um pouco despreparada para o que poderia vir. Preferiu esperar para descer na próxima estação, afinal a viagem estava apenas começando. E com tanto pólen flutuando pelo ar, a alergia... Recostou-se e voltou a adormecer.

- Estação Verão.

Acordou com a voz metálica do auto-falante, e um clarão ofuscante entrou sem pedir licença pela janela para atingir diretamente sua retina. O calor estava forte e ao longe algumas nuvens de chuva se aproximavam com pressa. Era meio dia, sol a pino; lá fora pessoas com roupas leves brincavam animadas à beira de um lago. Ela chegou a se levantar e pegar suas malas, mas olhou melhor e toda aquela agitação deu-lhe um certo receio. Preguiça? Não se animou. Decidiu sentar-se novamente, aguardar a próxima estação – quem sabe um clima mais ameno – e apenas observar, protegida em sua cabine.

- Estação Outono.

A janela estava aberta e uma folha seca caiu em seu colo. Já estava acordada quando a voz anunciou a estação, pois havia algum tempo vinha observando o lado de fora através da janela. Estava entardecendo e o céu se mostrava de um azul muito profundo, como ela jamais havia visto. Porém ventava um pouco, as árvores estavam desprovidas de folhas e as pessoas se agasalhavam levemente, cruzando os braços para caminhar através da brisa. A terra estava seca. Ela sentiu uma certa tristeza, um cansaço estranho, como se a atmosfera externa começasse a pesar sobre seu corpo. Decidiu que não se levantaria de seu assento e que esperaria a próxima parada, e assim adormeceu novamente.

O trem vinha diminuindo sua marcha, e de repente parou, fazendo um ruído estridente. Ela abriu pesadamente os olhos: anoitecia. Um frio úmido atravessou sua roupa e se instalou em seus ossos. Estrelas luziam no céu já negro, o frio era cortante e ela enrolou uma manta em suas pernas, desejando ter ao seu lado uma companhia humana e um chá bem quente. Sentia um torpor inexplicável e decidiu com toda a certeza que não, não sairia dali até a próxima estação. Nem bem acabara de se acomodar para aguardar a nova parada, a voz metálica do auto-falante anunciou:

- Estação terminal Inverno. Solicitamos a todos os passageiros que desembarquem nesta estação.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - As Quatro Estações

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