Tatuagens

- Mãe?... fiz uma tatuagem...

- Fez o que?

- Uma tatuagem...

- Deixa eu ver...qual foi o desenho?

- É uma borboleta pousando numas flores. Sabe que gosto de borboletas. Também já fui ovo, lagarta e crisálida. Enquanto lagarta, quando me chamavam de fim eu era o começo, a borboleta, delicada e forte, efêmera e eterna, porém, voando e distribuindo sonhos.

- Mãe, fiz outra tatoo!

- De novo? E o que foi dessa vez?

- Olha!... Começa por aqui e vai descendo ... É um beija-flor numa cascata de flores.

- Você sempre admirou esses bichinhos...

- É verdade. Se parecem comigo,esses pequeninos mísseis alados: Agitados, independentes e irrequietos. Intrépidos em suas manobras agéis e inesperadas, parecem nada temer. A plumagem colorida dá a impressão de mudança de tonalidade a cada instante. Esses graciosos bichinhos se aclimatam a qualquer temperatura ou tipo de vegetação.

- Mãe, sabe que fiz uma terceira tatuagem?

- Outra?

- Pois é. Não pude resistir. Dizem que é assim, quando se começa é difícil parar. Dessa vez fiz um anjo.

- E é enorme filha. Cobre toda a omoplata direita. Mas tá lindo... E o que significa?

- Não sei bem. Só sei que não são aqueles tradicionais, bonitos de carinha rosada. Não há qualquer conotação religiosa e foi criação minha mesmo.

- Mas ele parece meio sombrio, decaído, não?

- Pode ser, mãe. Mas não se engane. Ele só está repousando suas asas cansadas de tanto voar. Alguns vôos certos, outros equivocados. Mas foram válidos. E não se assuste. Logo, estas asas estarão novamente desbravando os céus.

- Tô assim um tanto surpresa, mãe: Fiz três tatoos e você , não reclamou, não me repreendeu com frases que tantas vezes ouvi de outras pessoas: “Isso é coisa de malandro, de marginal, de vagabundo”...

- Sabe que não brigo com meus filhos. Ainda mais se eles são borboletas, beija-flores e anjos.

E livres.