O segredo da vida (in: O Caminho do Bem)
Àqueles que pretendem confundir a explicar.
Àqueles que procuram o caos à ordem.
Àqueles que preferem a loucura à razão.
Era uma vez um rei, que queria saber qual era o segredo da vida. Chamou os seus conselheiros mais astutos, e os maiores filósofos do reino para que embarcasse cada um em uma jornada, em busca do segredo da vida. E assim, cada qual tomou seu rumo e se embrenharam em terras distantes.
Após alguns anos, retornou o primeiro sábio. O rei aguardava ansiosamente a conclusão da sua viagem. O sábio achegou-se diante do rei e disse: “Meu rei, após tanto tempo conhecendo os mais diferentes reinos e povos, descobri que o segredo da vida é Servir. Estamos neste mundo para servir ao próximo, servir é o meio para vivermos tudo que esta vida nos oferece”. O rei ponderou e viu que era um bom segredo para a vida, e mal esperava ouvir a que conclusões chegariam os demais sábios.
Após outros anos, regressou o segundo sábio. Ele se apresentou diante do rei e revelou-lhe: “Majestade, eis que descobri que o segredo da vida é o Conhecimento, chave para nosso progresso interior e exterior. Descobrir as ciências e os mistérios deste mundo e ter a noção de conhecer a si mesmo, eis o segredo da vida”. E o rei ficou ainda mais admirado com os resultados das viagens que proporcionara. Mas, afinal, qual era o segredo da vida? Em que ele deveria se dedicar para alcançar a felicidade? Até que retornou mais um sábio.
“Meu senhor, vi muito do que há de mal neste mundo: opressões, roubo, mortes. Não poderia deixar de voltar ao meu reino sem concluir que o segredo da vida é o Amor. Devemos perdoar nossos inimigos, nos esforçarmos para sermos pessoas mais amigáveis. Creio que assim teremos paz, e teremos alcançado a felicidade”.
E veio ainda outro sábio, meses depois, com outra conclusão: “Meu rei, eu também vi neste mundo demasiada injustiça, mas acredito com todas as minhas forças que devemos lutar contra as injustiças deste mundo. O segredo deste mundo é a busca pela Justiça. Devemos lutar pelo bem de todos, a todo custo, nos dispor a vencer os tiranos e promover a igualdade. Eis nossa missão neste mundo”.
O rei mandou os sábios, então, se reunirem e chegarem a uma conclusão sobre o segredo da vida. Mas eles não chegaram a nenhuma conclusão, pois cada qual acreditava piamente que havia descoberto já tal segredo, de modo que o rei ficou ainda mais angustiado que outrora. O rei também percebeu que ainda faltava o retorno de um dos sábios. Os anos foram se passando, até que o rei mesmo resolveu sair em busca do seu sábio. Teria tido seu último sábio algum contratempo, teria morrido após todos esses anos? Teria ele não encontrado o verdadeiro sentido da vida e teria fugido de vergonha?
Então o rei saiu em sua própria busca. Atravessou mares, desertos, montanhas, até que chegou a uma vila, onde tinha a informação de que lá estaria o último sábio. Andando pelas ruas daquela vila, avistou caminhando tranquilamente aquele sábio que ele tanto procurava. Quase não o reconheceu, pois já estava bem velho. O próprio rei também já estava bem velho, e, vendo o sábio, pensou que finalmente poderia morrer tendo descoberto o segredo da vida. O rei passara a sua vida toda nesta busca gloriosa, e entre reflexões, angústias e dedicação teria finalmente uma resposta. O segredo da felicidade. Seria o amor, o conhecimento, a servidão, ou a justiça? Seriam alguns deles, ou uns mais que outros, ou todos eles? Conforme o rei se aproximava ansiosamente do velho sábio, pensava mais e mais em toda a sua jornada até aqui. O sábio, também reconhecendo o velho amigo, chegou serenamente ao seu encontro.
“Meu sábio conselheiro, enfim encontrei-te. Por que não regressaste a minha presença? Não encontraste o segredo da vida? Todos os teus companheiros reais já retornaram há muitos anos, e cada qual trouxe consigo seus segredos, mas vejo que tu estás em paz. Tive que eu pessoalmente vir em minha própria jornada. E agora, antes de morrer, revela-me se descobriste ou não o segredo da vida!”.
“Sim, meu rei, de fato descobri o segredo da vida, e pensei comigo que vossa majestade também o descobriria, mas vejo que estiveste longe de descobri-lo. Terei mesmo que revelá-lo a ti?".
O rei já não aguentava mais tanta angústia. Agarrou o sábio pela roupa, sacudiu-o e ordenou que dissesse. O velho sábio abaixou a cabeça, sorriu, inclinou-se lentamente em direção ao rei, olhou-o fixamente com os olhos serenos e disse: “O segredo da vida é: Pare de se angustiar”.