O despudorado Estevão VII e a sua (adultera) sacrílega Agiltrudes
Ao longo da Idade Média, dentre os anos de 887 e 897, a corte papal, no Vaticano, estava agonizando sobre o cutelo afiado de Estevão VI, sucessor do até então pontífice Formoso. Naquela época, o papa, mancomunado com a sua arrogante amante Agiltrudes, mulher do governante do ducado de Spoleto, tinha a cúpula do Vaticano sobre o seu domínio, no entanto, quem exercia o poder nefasto sobre todos, era a tal sacrílega.
Filha de um mercenário veneziano com uma meretriz, Agiltrudes aprendeu todas as suas facetas com os seus progenitores. Desde pequena, quando estava em seus aposentos tentando dormir, ouvia os sussurros de seus ímpios pais se consumirem em uma atmosfera profana repleta de concupiscência. Ficava a espreitar tudo ao longo de vários anos de sua infância e adolescência. O pai, desde a infância de sua filha, ensinava-lhe as suas maquiavélicas lições de mercenário explorador a extorquir dinheiro das pessoas em troca de seus serviços. Mostrava-lhe, que era através do interesse econômico que devia subjugar as pessoas aos seus próprios caprichos e assim tirar vantagem. O infame tutor travou um diálogo com a filha:
-Só sobreviveremos nessa vida se deixarmos os nossos subordinados a nossa mercê.
-Mas papai, não temos que ajudar o próximo, dividindo equitativamente os nossos bens.
O pai, ensandecido deu um espasmo:
-Dobra a tua língua, estúpida menina, tu não aprendeste o que tenho te ensinado ao longo dos tempos? Explora o máximo os teus futuros subordinados e esposos. Sabes como manipulá-los a fim de que tires proveito de seus bens e possa também exercer domínio sobre todos os monarcas, membros eclesiásticos e grandes comerciantes, disse o soberbo progenitor.
A filha tudo aprendia e, contente com os ignóbeis ensinamentos de seu pai replicou-lhe:
- É de muito grado que acolho teus preciosos ensinamentos, pois nunca terei êxito em minha vida se não subordinar através de meu poder os meus futuros companheiros.
-Muito bem minha filha, é assim que se faz. Oxalá que sejas uma mulher pragmática para com as tuas palavras e honrará o teu pai com tais feitos. Disse o pai.
-Claro, meu querido pai. Disse a filha, findando o diálogo.
A mãe de Agiltrudes, Hermênia, era uma meretriz conhecidíssima em Spoleto, além do mais, era uma das mais ricas cafetinas que o Vaticano tinha conhecido. Sempre fornecia suas prostitutas para a satisfação carnal de papas, bispos e cardeais do Santo Ofício. Sempre alcovitava os relacionamentos de sua filha com filhos de Duques no condado de Spoleto. A mãe alcoviteira chegou um dia para a jovem serpente-filha e deu-lhe uma lição:
- Como tua mãe, e mestra na arte da sedução, dar-te-ei um grande conselho: Quando te casares com um grande governador, duque, rei ou até com papa, deixa-lhes sobre o teu cutelo e tirai-lhes vantagens de tudo que tens como bens materias e libidinosos. Considerai apenas os que são bem genitalmente dotados e execra os que não te trarás satisfação carnal.
-Tudo bem sábia mãe, eu, sem dúvida, darei o melhor possível de mim para ter uma boa conduta material e também sexual com os meus futuros maridos.
-Muito bem minha filha, é assim que fala uma futura duquesa, usa tal artimanha e serás bem sucedida em todo o império romano.
Tendo a duquesa se casado com Guido de Spoleto no Ano de 884, começa o ano da devassa, promovido pela depravada mulher. O primeiro plano da despudorada mulher era ter em seu domínio a cúria do Vaticano. Para realizar tal intento, travou um diálogo com o seu subordinado marido, o então governante Guido:
-Queres ser promovido pelo Santo Ofício ao cargo de imperador do Ducado de Spoleto, meu querido, pois vai a sua santidade o Papa Estevão II e pede que sejas coroado, logo teremos um grande monopólio sobre terras na Itália.
Não relutou a tal proposta e respondeu com ânimo:
-Claro meu doce amor, o que não farei para sermos bem sucedido nessa nossa futura vida de monarcas! Ahahahahaha
Chegando à Basílica de São Pedro, o governador da província de Spoleto pediu autorização aos bispos e cardeais ali presentes para ter uma audiência com o “Santíssimo Papa”. Tendo a permissão, chega a Câmera Papal e lança a proposta ao alto representante do Vaticano:
- A Vossa benção Santidade!
-Deus te abençoe meu filho! O que trazes aqui na casa do Senhor?
-Trago-lhe uma proposta irrefutável para V.S. Indubitavelmente trará vantagens para vós ao longo de vosso papado. Gostaria que me abençoasse e coroasse-me imperador do Condado de Spoleto. O que me dizeis disto?
O papa ao ouvir isso e notando que havia alguns bispos de boa índole nas proximidades, negligenciou o seu pedido com um ar de desdém:
-Não posso decidir agora, darei uma resposta depois. Tudo bem? Não irei garantir nada, irei analisar sua proposta mais meticulosamente.
-Tudo bem, hei de esperar a vossa confirmação.
Outra vez foi a Santa Sé a fim de concretizar o mesmo intento, mas foi negligenciado, pois o pontífice disse que já ia coroar o Rei João VIII, que seria rei da Itália e com isso lhe traria mais vantagem.
Ao voltar para a sua nobre casa em Spoleto, totalmente desiludido com o seu projeto futuro de se tornar rei, lamenta-se para a sua arrogante Agiltrudes o descaso por parte do Papa Estevão II em não coroá-lo. Sem titubiar, a sacrílega chegou a tomar a iniciativa de ir ter com o Santo papa a fim de conseguir realizar tal estratagema.
Ao tempo de uma semana, chegou à Santa Sé e começou a sua artimanha, dizendo-lhe que teria muitas vantagens, inclusive libidinosas com ela, se coroasse Guido como imperador do Condado de Spoleto. Tendo ouvido isso, o “Santo papa” não relutou em aceitar a proposta, tendo em consideração o pedido dessa rameira que era dona de um corpo recheado de carne e de grandes ancas.
No ano seguinte, em 885, Guido recebe a benção do Papa Estevão II e assim, é coroado imperador do condado de Spoleto. “Este deu início a uma década de terríveis conflitos entre a Igreja e a criminosa Agiltredes, responsável pelo encarceramento e morte de seis papas fantoches, quase todos eles seus amantes. Madame de Spoleto manobrou o papado e colocou o Estado da Igreja sob sua influência, nomeando e demitindo prelados ao estalar de seus dedos.” ( Mendes, 2006; p.35)
Sob o nefasto domínio dessa mulher diabólica, sucederam-se nove papas em oito anos. A maioria foi presa em prisão e outros foram assassinados. E quais eram os motivos para tais assassínios? Nada mais e nada a menos do que: impotência sexual e genitália inferior às dimensões exigidas por Agiltrudes. Essa era a maior exigência dela, visto que tinha aprendido com a mãe a seguinte lição: “Considera apenas os que são bem genitalmente dotados e execrai os que não te trarás satisfação carnal.”
A maioria dos amantes era inepta, pois eram reprovados por insuficiência genital e, taciturnamente, eram eliminados pelos guardas de seu império, alegando que tinha sido insultada por esses altos membros eclesiásticos. O único papa que a satisfez sexualmente foi Estevão VI, sucessor do até então pontífice Formoso, morto através de torturas e maus tratos infligidos pela soberana Agiltrudes.
Pelo fato de ter satirizado os atos imorais da ignóbil amante de Estevão no concílio de Santa Maria Rotunda, foi jogado em um calabouço e espancado por agentes a soldo de Agiltrudes, vindo a falecer. As sátiras foram explicitadas com veemência pelo Bispo de Porto para os demais membros sacerdotais:
- Que vida santa é essa que os nossos pontífices estão tendo, ao deixarem-se ludibriar pelos interesses materiais e carnais de uma sacrílega. Nunca, em toda a história do Vaticano, desde que o Imperador Constantino, convertido ao Cristianismo presidiu o l.o Concílio das Igrejas no ano 313, iniciando a história do papado, houve tamanho descalabro contra a Santa Igreja. É um descaso contra a Santa Sé e um grande paradoxo aos ricos ensinamentos de Cristo como o amor ao próximo, a humildade e a misericórdia.
Todos os bispos, cardeais e padres ouviam tudo atentamente. Havia alguns bodes espiatório da sacrílega imperatriz, só ouvindo e tomando nota em um pergaminho o que o revoltado bispo narrava sobre os descalabros ocasionados pela sua senhora.
Ao passo de uma semana, ouvindo o relato de seu servo espião, ordenou, sob a tutela do Imperador Guido, que prendesse o Papa Formoso, submetendo-o a uma prisão, onde foi espancado até a morte.
Sentindo-se insatisfeita com a barbárie proporcionada pelo Papa Formoso, Agiltrudes instou o amante Estevão VI a submeter o Papa Formoso a um austero julgamento por parte de bispos e cardeais- todos lacaios desta ignóbil imperatriz. Este episódio foi chamado de Concílio Cadavérico. Como se sucedeu esse macabro concílio? Oito meses após a morte do Papa Formoso, seu corpo foi exumado de sua cripta, sendo vestido com toda a sua indumentária papal, uma coroa sob o crânio pelado e o cetro do Santo Ofício que foi posto em seus dedos descarnados das mãos apodrecidas. Estava o cadáver na Basílica de João em Latrão, sentado sob o trono papal, enchendo o lugar com o mal cheiro de seu corpo podre repleto de moscas varigeiras sobre ele, em estado de putrefação. Ao seu lado estava o seu sucessor Estevão VI que começou a condená-lo:
- Primeiramente, prezados companheiros, relato que foi uma falácia o que este infame papa disse contra a nossa “generosa Imperatriz Agiltrudes”. Ela sempre quis ajudar o povo de nosso Pais e foi contra as injustiças praticadas em nossas terras.
-Este papa que aqui está – olhou para o defunto que continuou inerte sem o direito de se defender-, quis usurpar o papado de João VIII. Infelizmente este facínora que está aqui diante de nós tornou-se papa, mas, com a graça de Deus, foi castigado e a sua alma está queimando nas profundezas do Inferno.
Notoriamente, nenhuma resposta foi dada pelo morto, no tocante as acusações feitas contra ele. Assim sendo, ele foi considerado culpado de todas as acusações que se lhe faziam. Após a sentença, todas as suas vestes brilhantes foram rasgadas, sua coroa foi arrancada de sua cabeça e os seus dedos foram retalhados, sendo o seu cadáver jogado na rua e arrastado por cavalos para o divertimento da plebe. Em seguida foi jogado no ri Tibre, onde foi achado por um monge a enterrado com todas as honras na Catedral de São Pedro.
A Igreja Católica, por mais de um século, nunca foi tão sucumbido por poderosas meretrizes de Roma (887-997) e tantos papas, bispos e cardeais foram marionetes e meros objetos de preferências sexuais dessa classe de mulheres vis.
Raphael Barbosa Lima Arruda
Referência:
MENDES, Jeovah. Dos Porões Sombrios do Vaticano: Os 30 papas que envergonharam a humanidade. Ed. Tupynanquim. Fortaleza, 2006.
Internet: www.wikipedia.com