- A Menina Dos Vestidos De Boneca -
1.
Ela era pequena o bastante para que á enfiassem dentro dos vestidos das bonecas de porcelana influenciadas pela moda vitoriana.Louise era o nome dela, uma criança dotada de uma beleza incomoda, que odiava seu corte de cabelo á la Louise Brooks (Por isso o nome, Louise, na verdade era para ser Mary, em homenagem á Mary Quant a mãe da menina era uma amante de mulheres que tiveram um papel importante dentro do que chamava de "subcultura feminina" como ela mesma) a pequena Louise amava seus sapatos de vinil "Monómero de Cloreto de Vinilo----Polimero de Cloreto de Polivinilo" Dizia a fórmula decorada, página 222 (três patinhos na lagoa) da Encyclopedia of trivial quando sua mãe trazia as dúzias de sapatinhos monocromáticos em caixas perfeitamente quadrangulares enfeitadas com lacinhos coloridos, presentes sempre iguais... Pequenos sapatos.A primeira vista no escuro a pequena Louise Dalit Nin não chamava tanta atenção, isso só acontecia quando se acendia a luz ou atravessava os portões da mansão para conseguir apanhar alguma borboleta fujona, o que acontecera somente uma vez, e Louise não pisava os pés na calçado vraiment do lado de fora do portão, conseguira prender a borboleta entre as mãos depois das grades frias, ficou ali por algum tempo, tentando bolar uma maneira de não deixar a bela borboleta de asas laranjas com listras pretas e marcas brancas fugir, Louise conhecia aquela era uma Danaus plexippus ou Borboleta-monarca como estava escrito na enciclopédia, possuía uma coleção grande de borboletas-monarcas, eram sempre elas que rondavam, pelo jardim em frente a varanda, mas aquela era para Yoshua, prometera para ele que mandaria a maior quantidade de borboletas pelo correio, tinha um número exato de 11 borboletas mortas acondicionadas em uma caixa de isopor em um saco de papel vegetal. No saco constava o nome da "região" onde elas foram capturadas: "JARDIM DA FRENTE" escrito com esferográfica.Mas a borboleta que se debatia nas mãos fechadas em concha da menina, não sobreviveria intacta como as outras, Louise não á deixaria escapar, fechara a mão com força e o mais rápido possível puxou-a quase a prendendo na grade, quando ouviu a voz da avó Edith chamando-a. Louise galgou os degraus de casa com o pressentimento de que encontraria a avó sentada ao piano, eram quase onze da manhã. Horário das aulas de piano - E não tinha coisa que Louise mais gostasse depois de caçar borboletas no jardim e escrever cartas á seu amigo Yoshua, a terceira coisa era tocar piano, Edith era rigorosa e atingia um estado de rabugentisse muito rápido quando Louise não conseguia acertar as teclas, dizia numa voz áspera como língua de gato "Louise... Mon Dieu... par Dieu... Comment peut pas... Même à la recherche de tablatures...” Louise com seu francês em desenvolvimento não conseguia entender tudo, sorria nervosa e repetia as teclas mostradas na Tablatura, Louise sabia e Edith também sabia que... Tablaturas não eram apropriadas para instrumentos como o piano ou o cravo, decorar 88 teclas não era tão simples assim.
"Louise" Berrou a avó aparecendo do outro lado da porta de vidro, Louise enfiou a mão no bolso do vestido e soltou a borboleta esmagada."Onde você estava menina?”.
"Eu... Estav...”.
• “Espero que não esteja caçando aqueles insetos asquerosos... Sabe o que dizem sobre as borboletas... Sabe que não pode ficar pegando-as com ás mãos... E se colocar os dedos nos olhos, e se coçar os olhos... Você Sabe Louise!”.
• “Sim... Vovó” •.
A avó olhou para Louise e sorriu maliciosamente, estendendo a mão com um envelope "Chegou hoje de manhã, Yoshua parece estar se divertindo... Em escrever para você... Essa é a segunda carta que chega essa semana...” •Louise tentou agarrar a carta, mas a avó a ergueu dizendo rigorosa; "Só lerá quando... acertar... toda a partitura, você se responsabilizou em aprender... a tocar, para o dia da apresentação... Para o seu avô” •A apresentação... Como Louise poderia esquecer?
Como sempre acontecia nos aniversários do avô, a única vez que o velho, saia do quarto para poder vê-la tocar o piano, e todos os amigos da família também estariam presentes, e Louise só se responsabilizara á tocar para aquele bando de esnobes esquisitões, porque a avó prometera buscar Yoshua, queria muito conhecer o amigo, nunca havia visto Yoshua de verdade, sabia por intermédio da avó que ele era alguns anos mais velho, talvez dois ou três... e tinha cabelos cacheados cor de ferrugem e que morava com a avó amiga de longa data de Edith em uma comuna francesa que não conseguia pronunciar o nome, as cartas de Yoshua eram escritas em um francês perfeito, mas com uma caligrafia horrenda que somente Edith sabia decifrar, um dom interessante.Talvez o único dom, de todos os Dalit Nin.
As aulas terminavam quando o almoço estava para ser servido. A família seguia a tradição de nunca perder o horário do almoço, ás onze horas e cinqüenta minutos Louise, a mãe Sabina, os irmãos gêmeos Avi e Ari as tias; Clara e Alba e a avó Edith se posicionavam em silêncio para os agradecimentos, á muito tempo nenhuma palavra era dita nas refeições feitas á mesa, em memória de Ben Zion irmão de Sabina, tio de Louise que desaparecera depois de se aventurar numa viagem de balão sobre a Amazônia.Era Ben quem fazia o agradecimento depois do avô á muito tempo distante, o avô Boaz ficara cego e sofria com a perda da memória, tudo acontecera rápido demais depois de um acidente na escada a idade avançada dificultava muito...
Trancado num quarto no fim do corredor do segundo andar, recebia cuidados das melhores enfermeiras que a avó Edith conseguira encontrar, mas Louise sabia que não eram enfermeiras que fariam o velho Boaz melhor, o velho entrava em desespero quando não estava entorpecido mergulhado nos sonhos ou talvez pesadelo, se debatia na cama e era assim que as presilhas e cintas entravam em ação, Edith o prendia na cama, uma cena que Louise sempre tentava reconstruir em sua mente, sua mãe e as empregadas a seguravam no quarto, Louise entrava em um torpor atroz, parecia sentir tudo o que o avô sentia absolutamente tudo, cada grito de pânico do velho era interpretado no corpo frágil da menina que desmaiava pesadamente quando tudo acabava.
Esperavam até que o relógio badalasse reverberante doze vezes, em seguida se sentavam, era naquele instante que Avi e Ari olhavam para Louise esperando que ela desse o sinal, (um toque na colher de sopa sobre a mesa ao lado do prato).Os gêmeos então pregavam a colher na ponta do nariz, alegando que somente assim conseguiam sentir o cheiro do metal, os gêmeos sofriam de uma diminuição do olfato que nenhum médico conseguia explicar, com as colheres na ponta dos narizes os gêmeos desencadeando rugidos de Edith que ordenava que os garotos respeitassem um momento como aquele, e os risinhos cansados das tias; Clara e Alba.Era assim que se seguia o almoço vítima de uma cacofonia absurda.Louise mantinha-se quieta segurando o sorriso, e a satisfação que momentos de cacofonia sorrisos e gritos lhe propiciavam uma resposta afetiva vicária, ou seja, uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à própria situação. Era sua forma de se vingar de Edith por nunca deixar que ela lesse as cartas por si só, mesmo que demorasse uma eternidade tentando desvendar o que Yoshua escrevera...
Louise retribuiu o sorriso de Edith percebeu que era na imitação de outras pessoas, com movimentos posturais e de expressão facial que, quando produzidos, criava nela indicadores internos que contribuem para compreender e sentir a emoção em si própria.Não entendia muito bem o que fazia... Mas a agradava... Profundamente...Evitava olhar nos olhos das pessoas, evitava... Porque sabia que poderia copiá-la...Não só na aparência física... Edith satisfeita revelou o que escondia atrás das costas... A carta de Yoshua...Ela rasgou no canto como fazia com as correspondências, água, luz...Crispou os lábios, em seguida sorriu, fitou Louise com um olhar que Louise entendia, era o mesmo olhar que dava quando Louise não compreendia algo por inteiro, o mesmo olhar que significava "mais uma caligrafia feia”.
"Chacun de ce qui est la sienne” • “A cada um aquilo que é seu".
Disse... Quando a carta já estava aberta...
Yoshua sempre começava suas cartas com algum verbete ou anedota, e Edith sempre tinha na língua francesa algo igual para dizer.Yoshua parecia conhecer muito bem cada cômodo da mansão, ou simplesmente saber verdadeiramente o que Louise estava sentindo em determinados dias, se chovera ou se o ar estava seco o bastante para que as vozes soassem como se cordas arrebentassem nos pescoços das pessoas que conversavam nos corredores...Edith sorriu novamente e leu com sua voz áspera; Salut. Louise mon cher ... J'espère que ma lettre n'a pas disparu ... Plat, c'est quand cela se produit... "A caligrafia de Yoshua é horrenda" - Dizia Edith, mas sua voz ou sua expressão não eram a de desgosto que era quase permanente em sua face.Nunca se recusara em ler para Louise, com seu francês impecável, o curioso era que de tudo que Louise aprendia com a professora particular todas as quintas a única matéria que Edith pedia para a professora não se apressar em se aprofundar com Louise era a matéria de língua francesa clássica e moderna dizia rigorosa; "Ensine o que a minha neta precisa saber para se tornar uma dama sofisticada... A língua francesa pode esperar..." E de cabeça baixa a professora (senhorita Marjore) respondia num sibilo "sim... madame Edith".
Edith em cada estrofe lida traduzia o que o amigo de Louise queria dizer com "Je travaille sur certains projets..." ou "Je travaille sur un atelier de mécanique"
Apesar de nunca ter tentado ler uma única linha das cartas do amigo, ou simplesmente ter contado um segredo temendo que, quando ele respondesse Edith descobrisse ao ler para ela, Louise, mesmo assim sentia-se confortada com o que ouvia de Yoshua ele morava com a avó, mas ao contrário de Louise não vivia numa mansão trancada proibida de sair até a calçada da frente, era por meio de Yoshua que Louise descobrira muito, ou constatara que eram coisas reais... E não somente aquilo que lia nas enciclopédias, surpreendeu-se ao saber que Veneza era uma cidade com "ruas feitas de água" Ou... Que crianças viviam juntas em salas de aula...Mas o que lhe tirara o sono uma vez era saber que homens trabalhavam num projeto para viajar até a lua. As cartas de Yoshua passavam de simples comentários, possuía informações e humor, ele contava como vivia com a avó ou como conhecera certas pessoas, como estava indo seu projeto de tornar-se um piloto e como era seu novo trabalho numa oficina mecânica.Edith terminava de ler depois de dizer imitando voz de menino; "De son fidèle ami Yoshua... J'espère que vos réponses... encore plus" Dobrava a carta e a guardava no avental, nunca entregava de imediato á Louise, que tinha uma casa de brinquedo onde guardava as cartas, mas que estava no quarto de Edith onde ela não tinha permissão de entrar.
Mas Louise tinha um plano...
Pendurada de cabeça para baixo, apoiando as pontas dos dedos finos no chão, a menina de penteado á lá Louise Brook avistou o gramado gasto aproximarem-se rapidamente.
Plaft, a cabeça bateu no chão e ela caiu de lado.Estava no balanço não mais usado para fins digamos que infantis - Não mais fizera a escolha de usá-lo para aquilo... Aquela tarde
"Comumente se concede que semelhante escolha é feita quando estamos para atravessar uma ponte ou engolir de uma só vez o remédio de gosto amargo".
Sentou no balanço a cabeça latejante e ardilosamente maquinando... Como poderia entrar no quarto de Edith e pegar o que era de direito seu? Os olhos de Louise fixaram-se nas cortinas robustas da janela do segundo andar, o quarto de Edith, eram cortinas bonitas compradas por ela de um vendedor ambulante em uma viagem que ela fez quando ainda era moça casada... "Grécia" fora uma viagem para a Grécia, e Louise deparou-se com o Deja vú de já ter estado ali sentada no balando com seus sapatos caros de boneca que na verdade não eram de boneca (somente seus vestidos eram de boneca e eram bonecas grandes) sentiu já ter estado ali... Pensando na palavra robusta, ou melhor, coluna... Coluna robusta ou coisa do tipo.
"Colunas muito robustas, combina com o capitel relativamente pequeno, com o dórico e o jônico; colunas altas e delgadas podem também suportar um capitel grande, como o Corinto; elas têm menos a suportar, permitindo, pois, ornamentos variados..." Aquela eram as palavras de Edith que lia um livro de um autor de nome grande, Louise não conseguia pronunciar o nome, mas o primeiro nome a fez pensar na távola redonda, no rei Arthur e em sua espada mágica... Tirada de uma pedra...! "Caso se queiram adotar para pesos grandes, como o Corinto;... Finas, então, já que elas têm de se tornar mais comprimidas, sua altura se tornará bastante elevada; se isso estiver em conformidade com o caso, pode-se adotá-las; se a..." Louise o que? Edith interrompeu a leitura do livro, olhava para a neta que parecia interessada em outra coisa, os olhos da menina estavam pregados na capa do livro e com o dedo indicador ela parecia... "Está fazendo o que contando?"
"Ao todo são 18 letras" Disse Louise em voz alta "nome e sobrenome" A menina sorriu.
"O que pensa... que está fazendo...?” Disse Edith ríspida como a avó que era.
Consideramos, portanto que depois da tarde de leitura de Edith e Louise o castigo da menina foi ajudar o jardineiro com as roseiras de espinhos grossos, aparentemente parece ser um "petit peine" longe disse, o castigo de Louise foi definitivamente ruim, pior seria fazê-la comer... Uma das flores, mas Edith apesar da tentação deixou que a idéia sumisse rapidamente ao olhar bem dentro dos olhos duros de Louise.O jardineiro que não me lembro o nome estava na família a mais de vinte anos, era colombiano ou coisa do tipo, ao certo era da América pensando num todo.Era como um espólio, fora trabalhar na casa da família de Louise depois da internação da tia Deneuve fato que a família de Louise escondia.
"A jardinagem Louise é bastante impotente em face do desfavor da natureza, e, onde esta trabalha contra, suas realizações são Pifas...” •Louise encarou o jardineiro.
Ele pareceu se interessar pela atenção da garota...Ele continuou com o discurso sobre a jardinagem; Séculos e mais séculos de.
Trabalho de homens como.
O gosto puro e bom na.
A vida como uma flor em.
"Antes predominava o antigo gosto ou gosto Holandês... Que emigrou... da Itália e por lá ainda predominava; pelo pouco que os antigos dizem de seus jardins, temos que supor que eram do mesmo estilo”.
A menina continuou a encarar o jardineiro, os olhos de Louise eram fixos e vivos nele. O jardineiro que como numa ópera dramática continuava seu discurso sobre a história dos jardins, empolgava-se épico, "digno de epopéia”.
"Mas o mais importante de tudo... Na jardi...”.
"Pífias!" Exclamou Louise o nariz alto, empinado... Como um verdadeiro epígono!
O balanço rangeu e Louise continuou sentada pensando e pensando havia se esquecido do plano, do que ela precisava da coisa-em-si* ...
(*Aqui a referência é á teoria da representação, segundo a qual todo objeto pressupõe um sujeito que o representa).Louise ainda tinha coisas na cabeça, que na verdade não tinham absolutamente nada que pudesse ajudá-la a poder resolver o problema."Quem quiser alcançar isso tem de estar em condições de considerá-los de maneira puramente objetiva, livre das relações com a..." Edith diria alguma coisa daquela venenosa Louise podia vê-la dizendo a boca vermelha, os dentes corretos as maçãs nada rosadas, o rosto fino ofídico.Edith não era um exemplo de vovó reconfortante era mais para Bruxa da cabana de doces. Por isso, de um lado, o que em geral a divertia em planejar com os gêmeos como irritá-la ao máximo, aquela falta de medo, dava lugar a uma necessidade de temer Edith em certos momentos... Nas aulas de piano, por exemplo.Pode-se, portanto, sempre repetidamente dizer que a menina Nin era tão espelhada em Edith quanto qualquer outra forma que pudesse refletir na casa.Isso é de fato bastante notável!
A persona dentro da pequena Louise ou como ela mesma descobriria numa aula sobre o teatro onde o verbo personare não tinha nenhuma importância até que ela pudesse ler o que estava escrito de verdade nas cartas de Yoshua.Ali estava o plano, como não poderia ter visto antes?Envenenaria Edith, não, não... Envenenar não... Qual palavra poderia usar... Dopar isso mesmo... Doparia Edith,como se tudo se derramasse, como se um vento fosse o causador do efeito dominó, vento fino, fraco, brisa fluente algoz dos mesmos dispostos de pé e que se debruçando um sobre o outro dá continuidade musicada, as respostas surgiram para Louise...Doparia Edith com um calmante de sua mãe, roubaria a chave do quarto e entraria tudo planejado. A menina sorriu correndo em direção a porta de entrada correndo para longe de uma borboleta que atravessara o portão a seu encontro como se pedisse para ser colocada junto aos cadáveres de suas iguais.Louise correu com um sorriso torto no rosto, o sorriso que logo revelaria a morte e o significado do tal verbo personare, sorriso que o homem de 18 letras no nome chamaria de alegórico ou em extremo de in abstrato, sorriso que acabaria com mais sorrisos... Acabaria, extinguiria qualquer outro sorriso no rosto da pequena Nin de vestido de boneca.