Olhando para o céu
Levantava todas as madrugadas, debruçava-se no peitoril da janela e ficava horas olhando o céu, como se procurasse por uma estrela perdida dentre bilhões de outras estrelas Acendia um cigarro e ficava ali parado, olhar fixo no infinito do céu.
Quando chovia ou quando o céu ficava encoberto de nuvens, que o impediam de ver as estrelas, continuava ali, parado, olhando para a mesma direção.
Os poucos amigos e os vizinhos que, com o passar dos anos perceberam esse hábito incomum, nada perguntavam. Apenas achavam estranho, mas no fundo compreendiam. Achavam que era fruto da solidão vivida por longos e longos anos ou então que ele realmente apreciava a beleza do céu e gostava de contemplá-lo para preencher os intermináveis momentos de sua insônia crônica. Vivia sozinho, não tivera filhos, sempre fora homem de poucas palavras e, de certa forma, eram compreensíveis as atitudes estranhas.
Com o passar do tempo, passou a ficar mais tempo na janela. Às vezes, ficava ali, na mesma posição contemplativa até o dia começar a surgiu. Só então fechava a janela e recolhia-se ao quarto de dormir.
Numa noite, era uma madrugada fria de inverno, ele continuava ali no mesmo lugar de sempre. O vento frio soprava forte e batia no seu rosto também gelado. De repente, percebi que, pela primeira vez ele sorria. Continuava olhando para o céu e sorrindo abertamente. Sorria também com os olhos e com o coração.
Na manhã do dia seguinte o seu corpo gelado fora encontrado estendido ao chão, abraçado ao porta-retrato de sua eterna e fiel companheira.