A garota de sua vida
- Do que elas gostam?
- Elas gostam é de dinheiro - disse Ruan acendendo um cigarro - tenha uma quantia considerável do mesmo e todos os outros requisitos são preenchidos automaticamente.
- Hnn... está certo então!
E assim Dante se resolveu: cravou em sua mente a ideia de que tudo que precisava era dinheiro, apenas dinheiro e todo o resto seria uma maravilhosa consequência. Saiu rapidamente de seu quarto, se enfiou dentro do banheiro e tomou um banho quente e demorado; desde criança dizia que o banheiro era o lugar onde ele melhor raciocinava ao longo de todo dia. E agora, um assunto que exige tanta atenção como este, com certeza merece muitos litros de água quente, auto satisfação e paciência. No entanto, quinze minutos se passam e nada, nenhuma ideia sequer. Trinta minutos e menos ainda. Irritado, como uma bola Dante se põe para fora do banheiro, rapidamente veste sua típica vestimenta de trabalho e monta na velha bicicleta com quatro suportes de galões de água mineral que vem usando nos últimos dois anos por nove horas diárias e segue rumo a mais um dia de cachorro.
Todos os dias ele corta caminho por dentro de um parque localizado em sua vizinhança, porém desta vez algo inusitado acontece: uma garota, uma bela garota por sinal está sentada em um dos bancos em frente ao lago em forma de um círculo perfeito. De longe ele percebe que ela o olha (sempre prestou muita atenção neste tipo de situação). Chega mais perto, ela sorri e timidamente seu olhar vai de encontro a seus pequeninos pés envoltos a um tamanco branco cheio de pedrinhas brilhantes- não é possível! - ele pensa consigo mesmo e passa por ela sem a mínima intenção de parar. Mais adiante bruscamente freia a bicicleta quase indo ao chão. De costas para a garota ele pensa mil, duas mil vezes se deve ir ou não, por um milésimo todas as possibilidades de que sua investida poderia dar errado cortaram sua mente solitária e conturbada. Enfim, deu meia volta e pedalando vagarosamente foi de encontro a moça que o olhava com curiosidade. Pulou da bicicleta, a mesma foi ao chão quebrando o silêncio com um barulho altíssimo, porém não o suficiente para fazer nenhum dos dois desviarem o olhar. Por um instante ele a mede; ela é baixa, magra, usa uma saia azul um pouco acima dos joelhos, uma blusa regata com uma bela estampa de flor bem acima de seu seio esquerdo. Seus cabelos são longos, seu sorriso é perfeito, suas sobrancelhas são posicionadas diagonalmente lhe dando uma fisionomia má. Ele se apaixonou. Ambos se aproximam. Se olham, ela diz:
- Sempre te vi por aqui, mas nunca tive coragem de falar com você.
- Eu nunca te vi, mas só esta vez foi o suficiente para falar - Disse Dante, já completamente perdido.
- Eu não tenho dinheiro, sou muito pobre- disse Dante envergonhado, agora olhando para o chão.
- Não me importo com isso, eu também não tenho.
Silêncio. Se aproximam. Como uma bailariana ela se coloca nas pontas dos pés, estica os braços para trás como se estivese prestes a voar, ele acaricia as belas feições da garota; bochechas, testa e sobrancelhas. Seus rostos vão se aproximando, um sente a respiração do outro penetrando seus lábios e se...
Dante sente algo em suas costas, algo que instantaneamente faz arder. Confuso, ele olha para trás e está tudo escuro, outro impacto e ouve algo:
- Levanta desgraçado, você já tá dez minutos atrasado. se você perder esse emprego te ponho pra fora de casa seu maldito!
- Desculpe pai...