A cavalgada das Valkyrias
Eu sou um ser rastejante. Caminho pelo ares, buscando moradia, mas a moradia não existe. O que não existe me toca com serenidade, o ar que eu ainda insisto em vão em relacionar-me me torna uma pessoa fria durante um dia quente de verão onde as pessoas sorriem sem motivo algum, e choram com o peso do mundo nas costas. Eu faço parte do mundo, então sou carregado por alguém diariamente, involutariamente e mesmo assim me canso. Minhas veias secaram, não há circulação alguma, dentro e fora. Tudo está morto, implorando uma ressurreição gloriosa, e eu... eu estou aqui.
Repouso meus ossos no meu caixão pessoal, mas sem a tranquilidade que um dia tive. Hoje está perdida entre o acaso de uma vida e outra, ambas tão displicentes, tão descartáveis, sem importância alguma para você ou para ele. Apenas nós dois, sempre nós dois. Nós quatro jamais poderemos caminhar juntos; eu me rastejo, ela voa, você assiste e ele simplesmente cruza tudo isso apreciando as estrelas.
Pulo, ligo meu rádio, o ar é tomado por uma música qualquer. Me sento, ouço-a, uma bela voz canta algo que não significa nada. Mudo a estação, Ride of the Valkyries, não há nenhuma voz, mas tem todo o significado, toda a beleza, tudo que há de bom, mal, triste, muito mais que qualquer canto supostamente merecedor de todos os ouvidos sensíveis no mundo.
Me coloco de pé, caio, me rastejo, será que as Valkyrias olham por mim? Como um soldado morto em batalha perdido entre o caminho entre o paraíso, a realização de todos os sonhos e a oportunidade de mudar tudo.