"O CAPOTE" Conto de: Flávio Cavalcante

O CAPOTE

Conto de:

Flávio Cavalcante

Noite de muita chuva. Todos na residência de Paulo estavam à espera de um tempo melhor pra poder curtir o grande baile do local, fato não se pode faltar, pois essas festividades acontecem raramente na cidade. Paulo principalmente, que se tornara viúvo há pouco tempo e acreditava ele, que só ia esquecer o caos na sua vida depois que encontrasse um outro amor. Cada baile promovido na cidade era motivo de Paulo dá um grau no seu figurino e aparência a fim de encontrar a mulher que por certo iria mudar a sua vida e construir tudo que há pouco foi destruído pelo destino.

Finalmente a natureza ouvindo suas preces resolveu dar uma trégua, amenizando assim o mau tempo. A euforia era muita de não chegar atrasados no clube. Todos terminam de se aprontar.

- Vamos todos! O tempo deu uma trégua... (Disse o Paulo euforicamente e correu pro seu quarto pra colocar seu melhor traje preparado para aquela noite).

• Não esquece de levar o guarda-chuva! (Falou o seu irmão mais novo e ele retrucou que não precisava, pois além do tempo ter melhorado, aquele artefato iria atrapalhar uma noite de diversão).

Leva então o seu capote. Mesmo se precisar vesti-lo vai acabar fazendo parte do seu traje... (Insistiu o irmão de Paulo o que acabou o convencendo).

Já se aproximava da meia noite e todos já estavam nervosos com a demora de Paulo, que demorava muito em seu quarto. Repentinamente um cheiro gostoso de perfume inunda o ambiente da sala, chamando a atenção de todos e um engraçadinho soltando brincadeiras falou em bom tom.

- Com este cheiro, se Paulo não encontrar o amor de sua vida é melhor ele virar padre... (Todos caem na gargalhada. Paulo chega á sala realmente de chamar a atenção de qualquer pessoa).

- Nossa, Paulo... Você está muito elegante mesmo. (Falou seu irmão que estava pronto pra ir a festa). Realmente se não conseguir a mulher de sua vida hoje, é melhor você entrar num mosteiro e se dedicar aos afazeres religiosos...

(Paulo ri contigo).

Estou pronto. Vamos? (Todos saem. A noite promete. Na frente do clube o tumulto era grande, mas Paulo parecia que estava naquele astral positivo. Os olhares comilões fitaram o rapaz de maneira estranha. Não bastou muito para o Paulo estar diante das mais belas e cobiçadas garotas da festa. Realmente a noite era de encanto para o gato borralheiro. A banda começa a dar o sinal de que ia começar a tocar. E todos começavam a entrar, pois a chuva começara a castigar novamente muito intensamente).

A disputa do mulherio era intensa na intenção de dançar com o galã, que estava fazendo sucesso pela primeira vez no baile. Realmente dessa vez o Paulo caprichou no visual. Ele estava se sentido o tal, o mais gostoso e bonito da noite e queria aproveitar aquele momento, pois pra ele era novo, visto que aquela reação nunca havia acontecido antes.

Acreditem, até pedido de namoro Paulo recebeu naquela noite; mas, ele estava tão vislumbrado com tanta mulher aos seus pés, que ele não pensava em nada sério. O que ele queria mesmo era tirar a barriga da miséria e aproveitar com todas lhe atenção naquele baile.

Já passava das três horas da madrugada. Paulo já estava pra lá de alto, o álcool já estava o deixando bem á vontade com as garotas que faziam até círculos pra ver o espetáculo que ele fazia á parte. Descendo até chão de maneira frenética, acompanhado do ritmo gostoso que a banda oferecia.

As luzes do clube dançavam conforme á batida do ritmo tocado e ele lá todo feliz. Certamente, com toda aquela euforia, no dia seguinte, Paulo ia considerar a melhor noite de sua vida.

Num breve parar para beber mais um gole de cerveja e descansar um pouco. Bastou ele olhar para o lado e ter um momento que este sim, marcara a sua vida por completo.

Entrou pelos corredores do clube uma mulher que ele, apesar de estar sob efeito do álcool, não pensou duas vezes em dar sua primeira cantada direta e objetiva. Realmente era uma mulher pra homem nenhum botar defeito. Era uma loira de olhos verdes e lábios carnudos. Tipo de mulher que pára qualquer baile com a sua presença. Não bastou muito para o Paulo chamá-la pra dançar e causar revoltas nas garotas que estava o acompanhando desde o começo da festa.

A moça muito educada aceitou o convite do rapaz embriagado e começou aquela dança e com olhares profundos um pelo outro e Paulo sentia alguma coisa diferente em seu coração. Parecia pular mais forte. A moça dançava e dançava. O salão parecia estar pequeno para o célebre casal. Ele não falava mais, admirando tanta beleza. Parecia que a noite naquele momento foi feita para os dois. Era o momento de Cinderela e príncipe encantado. Parecia conto de fadas.

Já era quatro horas da manhã e a linda moça disse que já estava na hora de ir embora e Paulo tão encantando pediu a ela que ficasse mais um pouco e assim que o dia clareasse a levava em casa, o que dispensou a cortesia do belo rapaz e insistiu em ir embora dizendo que ele não podia levá-la pra sua casa o que entendeu de imediato a opinião da moça.

Posso lhe acompanhar até a porta do clube? (Disse Paulo muito gentil e ela concordou. Os dois saíram de fininho ainda sobre o som da banda. Chegaram em frente ao clube em baixo de uma marquise de lona, pois a chuva ainda castigara ferozmente).

- Você não pode ir pra casa assim com essa chuva. Espere ao menos a chuva dar uma trégua. (E a moça não queria mais dar idéia. Seu rosto estampava uma preocupação de sair dali correndo).

Então, por favor, leve o meu capote! Ele é de lona... (A moça tentou relutar em não aceitar, mas, Paulo insistiu e pediu o seu endereço pra ele ir buscar o capote mais tarde. Assim foi combinado).

Qual é o seu nome? (Perguntou o Paulo e olhou bem dentro do olho do rapaz).

Meu nome é Clara... (Disse a moça com um sorriso estampado no rosto).

(Deu o seu cartão ao rapaz, contendo o endereço de sua residência. A moça pôs o capote e saiu rapidamente e o Paulo guardou o cartão com muito cuidado e voltou a curtir a festa, agora sem as mulheres. A partir dali ele já estava certo que tinha encontrado a mulher de sua vida).

Termina a festa e todos saem do baile. Paulo chega em casa cantando música que ele nunca tinha ouvido. A felicidade era muito grande. Tomou aquele banho gostoso comeu um sanduíche e foi dormir.

Acordou quase ás duas horas da tarde. Levantou tomou aquele banho apressado, se produziu e foi ao encontro do seu amor, numa felicidade nunca vista antes.

Chegou á rua conforme indicava o cartão. Procurou o número da casa e assim que tocou a campainha foi surpreendido por uma senhora de feições grotescas marcadas pelo tempo.

Boa tarde... (Paulo cumprimenta a senhora, mas sempre com o olhar para o interior da casa na intenção de que Clara desse o seu ar da graça).

Em que posso ajudá-lo? (Disse a senhora percebendo a inquietude do rapaz).

Estou procurando uma moça aqui nessa casa, que conheci ontem no baile...

(A senhora olhou-o e disse que ele estava procurando na casa errada, pois ali não tinha moça nenhuma e que ela morava sozinha).

Impossível... (Retrucou Paulo passando o endereço pra senhora e ela confirmou o endereço que ele expôs).

É este endereço mesmo, mas, como falei não tem ninguém aqui, além de mim...

(Assim que ele fitou o olho para dentro da casa, viu o retrato da Clara na parede).

É aquela moça que está no retrato... A Clara...

(A senhora ficou pálida e fez menção que ia cair. Paulo ficou espantado com a reação da velha senhora e ajudou-a entrar em sua casa e empolgadamente contou detalhes de tudo que aconteceu, inclusive do capote que havia emprestado a ela. Mais impressionado ainda ficou o Paulo quando a senhora falou que se trata da filha dela e que faziam três anos que tinha falecido. Paulo passou a imaginar que a velha se tratava deste tipo de mãe conservadora e não queria que sua filha se envolvesse com rapaz nenhum. Ela percebeu essa opinião de Paulo).

Eu sei que você não está acreditando nas minhas palavras... (Disse a senhora e pediu que o Paulo a acompanhasse até o cemitério que ficava duas quadras depois da sua residência).

Assim que chegaram até o local tiveram o maior susto. O dito capote do Paulo estava estendido sobre o túmulo de Clara.

Este foi um fato real e a ainda hoje se guarda esse fato em forma de capote feito com arte de cimento e cima do túmulo da moça e fica localizado no primeiro cemitério do trapiche da barra em Maceió capital das Alagoas.

Porém quem for visitar a cidade, não deixe de ver o mausoléu com uma placa contando essa história com um conteúdo tão misterioso e fabuloso.

FIM

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 18/06/2009
Código do texto: T1654831
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