Momentos de descontração

_Vamos colocar um pouco de tempero relaxante aos nossos encontros? Pois bem, sigam a historinha que iremos relatar:

“Um trabalhador, sempre cônscio de seus deveres, morava sozinho em um prédio de apartamentos modesto, daqueles cujos ruídos entre os vizinhos se expandiam facilmente. Acontece que, como o seu trabalho exigia, ele chegava em casa diariamente perto de duas horas da manhã, portanto, sempre que possível, ele fazia tudo para não incomodar os moradores do prédio com ruídos que os pudessem acordar. Só que havia um ‘porém’ nessa história – esse rapaz, logo que chegava em casa já cansado, com a intenção imediata de tomar um bom banho antes de dormir, tirava suas botas, que, por serem muito grossas e pesadas, faziam barulho ao caírem no chão e acabavam por acordar o vizinho de baixo, em plena madrugada. Não deu outra, após alguns meses dessa rotina diária, o vizinho foi bater à porta dele, pedindo-lhe, encarecidamente, que se lembrasse de que suas botas o estavam martirizando, a ponto de ter que recorrer a calmantes para poder dormir. De pronto, o trabalhador prometeu que passaria a tomar o máximo cuidado para que esse fato nunca mais se repetisse, dessa forma ainda pedindo muitas desculpas pela sua atitude. Pois muito bem, logo no dia seguinte que ele voltou pra casa, após uma jornada de trabalho muito estafante, a primeira coisa que ele fez foi jogar sua bota ao tirá-la, foi então que se lembrou da besteira que fez e resolveu tomar muito cuidado ao tirar a outra bota; daí foi tomar o seu banho e deitou-se em seguida. Lá pelas cinco horas da manhã, o vizinho de baixo bateu insistentemente na porta do rapaz, demonstrando estar prestes a ter um ataque de nervos, pedindo-lhe pelo amor de Deus que jogasse logo a segunda bota, pois não tinha conseguido dormir até aquela hora, à espera do barulho dela!”

É evidente que tudo não passa de uma brincadeira, mas vamos relatar uma experiência real, efetuada há mais de quarenta anos, que pode confirmar que a piada até que tem algum sentido:

“Um cão foi confinado em um ambiente totalmente vazio, onde apenas era pendurado um quadro branco, com o desenho de uma circunferência, toda vez que estavam prestes a lhe darem alimento, e era pendurado outro quadro, com o desenho de um oval, antes que alguém entrasse no ambiente para lhe dar várias chicotadas. Esse procedimento levou um determinado tempo, até quando o cachorro começou a demonstrar reações de alegria ou de tristeza, apenas conforme os quadros lhe fossem apresentados. Pouco a pouco, então, o desenho oval foi sendo ‘desvirtuado’, começando-se um processo de aproximação à circunferência – mesmo assim o cão notava a diferença entre os desenhos e assim reagia conforme sua visão, até quando os dois desenhos começaram a ficar muito próximos, com difícil interpretação, fato que o deixava confuso por algum tempo, até quando conseguia concluir o que o esperava (o alimento ou a surra). Tudo começou a chegar num limite onde a angústia do animal, a cada vez que via o desenho pendurado, era acelerada para um processo devastador do seu controle emocional, até chegando à loucura total.”

Podemos tirar um grande aprendizado com tudo o que foi explanado – a angústia pela incerteza de um acontecimento, seja ele bom ou mau, é ainda pior do que o próprio desfecho desastroso, isto porque ainda temos em nosso íntimo o sentimento de apego, de medo do sofrimento que talvez possa nos afligir; pois bem, para o animal isso é explicável, porém para nós os humanos é uma demonstração de falta de fé e de fraqueza da nossa individualidade – é o sofrimento por antecipação, mesmo que seja ele simplesmente hipotético, portanto, pode vir a ser o tipo do sofrimento “gratuito”, porém estressante e destruidor do equilíbrio emocional, cujo resultado imediato mais provável é a depressão.

_Vamos então descontrair e deixemos o destino seguir o seu rumo – é muito importante que estejamos sempre preparados para “curtirmos” um desejo alcançado ou então para enfrentarmos um problema de frente, com sabedoria, paciência e determinação.

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 14/06/2009
Reeditado em 29/12/2010
Código do texto: T1649234