CLÓVIS, O BOM LADRÃO (como Deus conhece o nosso coração e nosso sentimento mais que nós mesmos os conhecemos, salvou a sua ovelhinha no mundo capitalista
Enquanto viveu, Clóvis foi um bom ladrão. Pensava agir mais ou menos com correção: era um agiota e como tal ganhava dinheiro com o aperto financeiro de uns e de outros. No desespero, as pessoas recorrem aos agiotas, pagam imerecidamente a quem lhes empresta para saldar compromissos financeiros e não raras vezes usam o recurso da penhora. Nem os seus próprios irmãos escapavam de sua sanha financeira. Aprendera a ganhar a vida desta maneira com seu pai que assim procedia sem achar abuso em tal prática.
O pai sempre dizia: Amigos, amigos. Negócios à parte.
Clóvis se casou com uma excelente jovem. Ao tomar conhecimento do seu ramo de negócio, a esposa pedia-lhe para abandonar o negócio que ela não achava lícito e que Deus não haveria de gostar de tal procedimento e das implicações advindas. Clóvis retrucava tentando fazer a esposa entender a sua posição. Dizia-lhe que em contrapartida fazia caridade destinando uma boa parte do dinheiro ganho às obras filantrópicas ou religiosas.
Inutilmente sua esposa tentava dissuadi-lo, tentando mesmo fazê-lo entender que roubar de um e dar a outros não diminuía o seu pecado. Se fazia caridade tentando amenizar o mal que fazia a alguns, era inútil , posto que não podemos agir da maneira que julgamos correto.
E insistia: Lembre-se das palavras do Mestre Jesus. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida...Ninguém chegará ao Pai senão por mim.” Temos que seguir os mandamentos. Jesus é o verdadeiro caminho, no qual é depositada a nossa vida que pela nossa fé é eterna.
Clóvis jamais lhe deu ouvidos. Tiveram uma única filha que nascera com retardamento mental. Este triste fato entristeceu o casal, no entanto, verdade seja dita, sempre tiveram muito amor e paciência, carinho e cuidado no trato com a filha dependente total da boa vontade dos pais.
A esposa de Clóvis não desistia de pedir-lhe para que mudasse de vida. Lembrava-lhe que nem o fato de terem tido uma filha com um problema de certa forma insolúvel, não o fizera mudar. Desolada, desgostosa e infeliz por ter-se unido por amor a alguém tão sem escrúpulos, consolava-se a cuidar da filha e a dedicar um amor irrestrito ao Pai Celestial.
Como o corpo sofre quando o espírito vive atribulado, depois de uma breve doença, a esposa de Clóvis fechou os olhos para este mundo, dois anos depois da morte da filha que não chegou a completar dezesseis anos.
Com a morte da esposa e da filha, Clóvis que devotava um grande amor a elas, perdeu a saúde, sem, contudo, deixar o seu odioso trabalho. Por muitos anos viveu doente. Sofreu quase sem amigos para ampará-lo nos seus momentos de dor devido a máxima que lhe passou o seu pai “Amigos, amigos, negócios à parte.” Isso lhe facultou a solidão nos seus últimos anos de vida.
Como amigos de verdade são raros no mundo dos negócios, muitos que se sentiram prejudicados por ele não o visitaram. Clóvis perdeu o melhor do amparo e da solidariedade.
Ao ser chamado por Deus, Clóvis fez a sua travessia. Teve que passar por vários estágios espirituais, outra vez doutrinado. Como Deus conhece o nosso coração e nossos sentimentos mais que nós mesmos, recuperou a sua ovelhinha perdida no mundo capitalista.