A água encharca e o fogo queima
Vamos criar um cenário familiar de fim de semana – um jardim aconchegante, perto de uma churrasqueira, onde as picanhas, as lingüiças e os franguinhos exalam aquele cheiro delicioso, que abre o apetite dos vizinhos. Ali reunidos, dentre outros, estão duas irmãs descontraídas e seus respectivos maridos, todos jovens, dividindo um barril de chope, maionese, arroz e salada. Todos eles vêm de uma vivência repleta de amizade fraternal sincera, onde a confiança, a sinceridade, a honestidade e o respeito permitem grande proximidade e liberdade de atitudes brincalhonas e até maliciosas, sem que possa haver qualquer violação à intimidade, de forma mais grosseira ou atrevida, enfim, são pessoas normais, que praticam a saudável convivência familiar em sua plenitude – um exemplo a ser seguido.
Muito bem, “lá pelas tantas”, depois de muitos copos de chope, muitas piadas, discussões, brincadeiras e que tais, o inusitado acontece, sem qualquer aviso prévio - um dos maridos dirige-se até sua cunhada e baixa o seu corpete, de maneira que ela fica com os seios à mostra, perante os presentes!!! Essa idiotice, há pouco mais de quarenta anos atrás, poderia resultar até em morte, ao passo que, hoje, poderíamos presenciar simplesmente a uma gargalhada “federal”! O que provocou essa desvalorização de valores morais e o que criou a permissividade sem limite, em relação à mulher?
Devido ao terrível cerceamento de vontades, de opiniões e de atitudes ao qual as mulheres estavam sujeitas até meados do século passado, iniciaram-se movimentos feministas em grande escala, no mundo ocidental, criando-se assim verdadeiras reviravoltas no comportamento e na aquisição de direitos pelas mulheres, a ponto de elas chegarem aos dias de hoje em completa igualdade com os homens, no exercício da cidadania. Tudo isso criou um clima diferente dos usos e costumes milenares, que chegou a assustar os “machos” de plantão, a ponto de haver um recuo nas suas atitudes mais agressivas, principalmente com relação à sexualidade, onde eles sempre foram dominantes ao extremo.
Hoje, as mulheres estão se entregando abertamente à luta por conquistas amorosas, coisa que só era prerrogativa do mundo masculino, sendo assim elas estão procurando aprimorar cada vez mais os caminhos da sexualidade, fazendo de tudo o que seja possível e impossível para se saírem vencedoras, em meio à forte concorrência, que está se tornando cada vez mais desleal e selvagem, desvalorizando assim a feminilidade e acabando de vez com a doçura e o frescor da sensualidade natural da mulher.
A apelação para os cosméticos, a malhação, as cirurgias plásticas, o bronzeamento artificial, os implantes de silicone, as massagens, a lipoaspiração, o “botox”, os regimes de emagrecimento e assim vai, é alucinante, em vias de se entrar em paranoia coletiva, criando-se assim a mulher “virtual”, longe da naturalidade, além do mais também provocando algo como bulimia e anorexia, o que é muito triste. Acontece que se soma a todo esse esforço também a exteriorização dos impulsos hormonais femininos, ajudados pelas roupas que procuram deixar à mostra os “atributos” físicos, que, muitas vezes, foram simplesmente “fabricados” artificialmente, o que estraga o apelo sexual masculino, porque, na hora de decidir, o homem dá toda preferência a mulheres “originais”.
Sabemos que, quanto mais levantamos um pêndulo para um dos lados, ao soltá-lo ele irá se mover imediatamente ao outro lado, subindo bem alto, no mesmo nível em que foi levantado inicialmente, demonstrando assim que toda vez em que nos inclinamos de forma muito radical para um caminho, isso irá criar reações contrárias muito fortes para o lado oposto, também radicalmente, havendo assim a formação de desarmonias desastrosas, até quando seja possível chegar-se a um consenso de equilíbrio, após esforços de cada um de per si e do bom senso da coletividade.
Tudo deve ser direcionado para o centro, de forma natural, para que haja harmonia e respeito a limites, ou seja, cada um “na sua” (homem/mulher), conforme suas características e maneiras de ser, assim como foram criados - nem tanto à água e nem tanto ao fogo.