Apocalípse

O fogo crepitante aquece as pernas nuas do velho roceiro,rala sopa a cozinhar, esfrega as mãos enrugadas enquanto rola na boca o cigarro,feito de palha do milho ruím da última colheita. Ao seu lado,a mulher ainda nova expõe suas magras tetas à fome de esquálida criança, consumida aos poucos pela bexiga.Não há o que mamar,o choro é o vão protesto do inocente.Em desespero, a mulher se afasta, adentra a rala mata rumo ao riacho.O velho deixa rolar uma lágrima em seu rosto marcado pela carestia.Gargalhadas,próprias de um celerado e ela volta,olhos brilhantes,em seus braços já não tráz a criança...

Paulo de Tarso
Enviado por Paulo de Tarso em 25/05/2006
Código do texto: T162639
Classificação de conteúdo: seguro