Quando os sonhos nos guiam
Rua escura. Medo do lugar. Cachorros vadios habitavam o local. Lá se encontravam todos os terrores de sua vida. E era noite.
Mas tinha de passar por ela. Era o caminho da escola. E sempre para superar o medo imaginava coisas, lugares.
Uma vez por outra tinha indícios de visualizar uma madrugada, animais silvestres, um galo em seu cocoricó. Talvez coubesse um riacho, pássaros cantando no alto das goiabeiras. Um dia uma borboleta voou bem perto dele e pousou numa árvore pequena, tal sua irmãzinha caçula.
Das ruas em que andava em seus sonhos não lembrava o cheiro de acre e não sentia a fome dos animais. Mas ali, sua alma era um lago sombrio. Podia perde-se nela. Desferir golpes dentro de si mesmo, enlouquecer de tanto pensar nos dias que ainda restavam para terminar os estudos e poder sair dali.
Sexta-feira. Logo seria o sábado. Dia de pescar. Gostava de tratar os peixes e comê-los assados na brasa às margens do riacho. O sabor da comida era excelente. Parecia um churrasco. Levaria refrigerantes num isopor. Coca-cola era seu preferido. A irmãzinha adorava sucos com piabas fritas e uma farofa que a mãe fazia. Neste sábado ele pegaria algumas num litro especial que ele arranjara.
Estava já quase no fim da rua. Eram vinte e três horas. Seu jantar estaria em cima do fogão e quem sabe tenham deixado um pouco de suco, desses que vêm nos pacotes, para ele.
Segunda-feira teria avaliação de matemática. Sua disciplina preferida. Seria professor. Disso tinha certeza. Talvez fosse morar um sítio, mas uma casa com um PC para escrever seus contos, isso ele se prometia.
Abre a porta da casa... todos dormem...