A visita
- Quem está aí?
Ele arrastou as sandálias, gastas sandálias franciscanas, e chegou próximo do batente da porta. Repetiu a pergunta, procurando engrossar a voz.
Do outro lado, uma vozinha aguda, mas firme, respondeu:
- Quero falar com o campeão.
- Quem é você? — Com desconfiança irrompeu a pergunta, por trás da porta hermeticamente fechada.
-- Sou seu vizinho. Eu também nado.
Mandar aquele garoto embora ou abrir-se para uma possibilidade de encontro? A dúvida durou um tempo que, para o menino, pareceu muito longo. Já estava para ir embora quando ouviu o barulho das chaves, dos trinques, o ranger da madeira. Diante dele, meio corpo de um velhinho franzino, o nariz adunco, os olhos ainda penetrantes.
-- O que você quer?
Estudaram-se mutuamente, tentando descobrir o que se insinuava para além da mera aparência. Como que se farejaram, num reconhecimento. Já não importava o que iriam dizer, o rumo que tomaria aquela conversa. Sorridente, o guri declarou:
-- Quero muito falar com o senhor.
E a porta se abriu, o suficiente para que ele pudesse entrar.