1 - CRÔNICAS DA CACHORRA

Ela entra na sala dum jeito que me faz entender tudo: hoje é dia de cachorra.

Nada que se pareça com o que foi da primeira vez, quando ela chegou cheia de medos de ser reconhecida, e eu também, e tivemos de improvisar coragem até descobrir que ninguém estava nem aí para nós.

Hoje ela já chegou diferente, confiante. Vem maquiada de outra forma, de peruca escura e saia de couro muito justa, sem medo de ser vista por alguém conhecido. Até eu, que a esperava, demorei a entender que era ela.

Caminha na minha direção rebolando de um jeito que eu sei que é só para mim, mas que provoca um silêncio na sala á medida que ela vai avançando. As conversas interrompem-se, as cabeças voltam-se e acompanham a sua passagem.

Vejo que já vem em brasa, com as mamas estremecendo os bicos duros ao ritmo do salto alto, doidinha para pô-las nas minhas mãos. Depois pára á minha frente com um movimento seco, apenas por um momento, fazendo com que estremeçam ainda mais por baixo da blusa de seda.

Hummm...entendo! A cachorra exibe-se para mim, e quer que eu aprecie o que me traz: - o fogo no rabo. A febre nas veias. Na sala, já todo o mundo sabe que a fera vem perigosa.

Logo depois, encosta-se em mim como quem marca território. Encaixa entre as suas coxas a perna que tenho pendurada do banco do bar, ao balcão. Beija-me nos lábios e enfia alguns dedos pelo meio dos botões da minha camisa, arranhando-me o peito sob o pelo, suavemente.

Nesse momento, a tensão na sala atinge um pico. Não há olhos, de homem ou mulher, que não estejam postos na sensualidade sem limites daquele corpão que a fera aloja nos meus braços, mostrando ao mundo quem é o seu macho.

Escondida atrás dos óculos escuros, toda a atenção dela parece posta em mim, como se estivéssemos sozinhos e o resto do planeta não tivesse importância. Mas eu conheço aquele brilho no olhar, e sei que nada escapa aos seus olhos de fera caçando para comer. Como, no caso presente, a comida sou eu, acho uma maravilha

Recusa a bebida que ofereço com um sorriso enigmático. “-Quero beber você!”- diz-me ao ouvido, e puxa-me levemente pelo braço.

Cruzamos a sala em sentido inverso e saímos. A sala do bar explode em ruídos, aliviando a pressão e retomando a normalidade. Ainda escutamos uma voz anônima, vinda lá do fundo:

“ – É, cara... Hoje tem !!!”

A voz traduz bem o que todos estavam pensando. Há uma risada geral .

- Tem sim ! Claro que tem... – digo para ela, baixinho, rindo também.

- Ah, tem muito! Espera p’ra ver... – responde ela com urgência na voz.

Corremos juntos para o carro.

J Craft
Enviado por J Craft em 26/05/2009
Reeditado em 26/05/2009
Código do texto: T1616384
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