Sobre o tempo
O que ainda me intrigava é como uma simples lembrança poderia doer tanto. Já não recordava muita coisa, mas o pouco que recordava doía como se tivesse acontecido ontem.
Tentei lembrar quando tudo aconteceu e foi um esforço vão.
Tentei dormir e esquecer mas quanto mais eu fechava os olhos, mais a sensação de mal estar aumentava. Era como se ao tentar esquecer tudo, voltasse com ainda mais força. Como se zombasse de mim ou dos meus esforços patéticos de enterrar tudo.
Como se toda força que eu um dia achei que possuia simplesmente fosse ao chão em apenas 5 minutos.
Tantos anos jogados no chão por apenas 5 minutos.
E isso me intrigava.
Talvez Celine tivesse razão: todos somos um resultado de pequenos, maravilhosos detalhes e não existisse maneira de substituirmos as pessoas. Apesar de nunca ter substituido ninguém, tentei enterrar. Naquela gaveta mental aonde guardamos tudo o que nos assombra. Ou o que nos dói. Mas um dia talvez fique cheia e abra sozinha. Abra com um pequeno esforço, ou com uma música, ou com uma frase solta no ar.
Talvez fique escondido lá, esperando a hora de sair e rasgar o peito novamente. Questão de tempo.
A forma como o tempo só serviu para acobertar a mágoa ao invés de apagá-la me intrigava.
Sendo bem sincera, ainda intriga.
E dói.