A CHAVE NO VASO - NO QUE DEU "O QUERO MAIS" DO ORLANDINHO

Conheci o Orlandinho e a Mariana quando de minhas andanças pelo Rio de Janeiro. Para ser mais precisa, em Jacarepaguá, onde moravam – em casa própria, diga-se de passagem - Formava o Orlandinho e a Mariana um par gostoso de se ver, vivia um para o outro e os dois para os filhos, que eram três. Funcionário da Petrobrás sem ser filiado ao PT, considerava-se um eleitor do Lula, de quem era um defensor ferrenho. Empreguinho bom o do Orlandinho, dava até para fazer o que o Lula tanto insistia nas suas campanhas: tomar uma cervejinha no final da semana no boteco da esquina.

Mas o Orlandinho queria mais, e foi aí que a coisa desandou. Um colega de trabalho lhe ofereceu uma casa de praia em Rio das Ostras, litoral do Rio de Janeiro, o preço nem era tanto e Orlandinho fez as contas, puxou pra cá puxou pra lá, pensou em lançar mão da poupança dos filhos,- até então sagrada - mesmo assim ainda não dava para efetuar a compra. Foi quando uma idéia brilhante lhe veio à mente. Havia um meio de aumentar a renda: ia trabalhar embarcado por certo período: viagem para o exterior, pagamento em dólar... Amadureceu a idéia, a causa era justa e o sacrifício era válido, falou com Mariana. De principio ela não concordou, não seria sensata a separação, acostumados que eram à convivência diária, mas logo cedeu ante os argumentos do marido.

Assim pensou, assim aconteceu. E lá se foi o Orlandinho mar a fora: no peito uma saudade danada dos filhos e da Mariana.

Não sei se cabe..., mas tem a sua razão de ser (no decorrer da leitura entenderá) contudo, não passa de uma inconfidência minha. Ah, que seja. Lá vai! Segundo Mariana, a vida sexual do casal era intensa, meio safada, sacana mesmo, pois o Orlandinho tinha lá as suas taras e era chegado a experiências extravagantes, “bestiais”, seria o termo.

O tempo foi passando e Orlandinho sempre navegando em mares distantes. Contudo, prestes a realizar o seu sonho, logo teria dinheiro suficiente para a compra da casa de praia. A conta no Banco ia de vento em popa.

Numa dessas passagens rápidas do navio pelo Rio de Janeiro, Orlandinho viu-se em casa por dois dias, mesmo desligado em matéria de vestuário, deu para perceber a compostura no vestir de Mariana, não a viu metida nos minúsculos shorts que o deixava louco de desejo, principalmente quando ela estava debruçada sobre a pia da cozinha, mas sim em saias no meio da canela e blusas abotoadas até o pescoço e ainda por cima de mangas compridas. E mais ressabiado ficou quando a procurou na cama e ela o repeliu dizendo: “ só quando o Senhor Jesus permitir”. Foi demais para o Orlandinho. Afinal, o que diabo a mulher queria dizer com isso? E foi violento ao possuí-la.

Justifica-se o comportamento de Mariana: havia dado um novo rumo à sua vida: se fez protestante, sem ter tido a gentileza de comunicar ao marido. Tudo por conta da pregação de um certo pastor, que por acaso ela ouviu falar da salvação, através de uma rádio pirata do bairro, oferecendo-se para guiar as ovelhas desgarradas e entregá-las ao Senhor Jesus, bastando freqüentar a sua igreja, arrepender-se dos pecados, renegar a satanás e os prazeres da carne.

Era o que a Mariana andava fazendo, enquanto Orlandinho navegava em mares distantes, voltando-se toda para a igreja, negligenciando a própria casa e aos filhos, fazendo do pastor o seu confidente e confessor, tornando-o conhecedor das suas intimidades sexuais com o marido .

Um belo dia, já senhor da situação, pois a essa altura o vivo do pastor sentia Mariana completamente dominada pelos seus encantos pastorais e a título de conceder-lhe o perdão total, exigiu dela, de forma explícita uma “amostragem” de seu pecado carnal praticado com o marido. No que foi atendido plenamente.

Um belo dia chega de volta o Orlandinho.... Dirigiu-se até o vaso de planta, perto da porta onde sabia encontrar a chave, deixou cair às malas no chão, deu a volta na fechadura, e para surpresa sua teve que sufocar o desejo de abraçar a mulher e os filhos. A casa estava deserta. E ele havia telegrafado avisando do seu regresso...

Soube depois pela vizinha, que as crianças, os avôs vieram apanhar. Quanto a Mariana havia fugido com o pastor, levando as economias do casal. A conta era conjunta.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 19/05/2009
Reeditado em 19/05/2009
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