A chave no vaso - A vida como ela era !

Souza Neto era um rapagão feliz!Despreocupado com a vida.Criado pelo avô viúvo,vivia de rendas,com mesada abastada.A fortuna do avô

,adquirida mais em saques e espólios de guerras do que soldos eram várias barras de ouro!Era guardada em lugar secreto,longe da casa de muitos quartos.O avô havia servido ao exército condecorado pelo próprio imperador,D.Pedro ll!A mãe de Souza morreu após seu parto.O pai morreu bravamente em confrontos na guerra do Paraguai.

Souza Neto,era diferente dos antepassados,não se deu bem com as armas!Faltou-lhe o senso de dever,venceu a indolência e a vontade de usufruir da fortuna herdada.Um serelepe lépido e fagueiro em se tratando de farras!.Tornou-se para descontento do avô,um jogador inveterado,beberrão e companhia constante de jovens de passado espúrio!Não raro batiam-lhe à porta cobrando polpudas somas perdidas em carteados de noites insônes,nos porres e nos mais baixos

meretrícios.De início,o avô temendo escândalos e a vergonha cobria-lhe as dívidas.Depois,cortou-lhe a ajuda,exigiu que buscasse emprego. Homem de princípios e hábitos metódicos,tinha por rotina visitar os amigos de caserna.Solitário (o neto jamais tinha tempo de acompanha-lo) ia igreja,onde semanalmente cuidava do túmulo do filho e daesposa

sua amada Heloísa!Ela quebrara o pescoço numa que durante uma cavalgada,trinta anos antes!Desgostoso e cada dia mais macambúzio e sorumbático,o avô contraiu tuberculose.Acometiam-lhe cada vez mais fortes ataques,hemoptíases que traziam pavor e afastavam mais ainda Souza Neto.

De preocupado,quando sóbrio,Souza Neto tornou-se ganancioso e esperançoso.Se morria o avô,não precisaria mais esmolar,depender de sua generosidade acompanhada de reprovação.Seria dono de si!Imaginava-se,em momentos de longos suspiros,a viajar,beber e fumar rodeado de raparigas e amigos chegados,pelo cassinos de Montecarlo

de Paris,ou Madri !

Imbuído de desejos de poder,Souza precisava da confiança do avô para ser digno de saber onde o velhote escondida a rica herança!Chegou a se empregar no escritório do melhor amigo do avô,cumpria horários,se afastou dos amigos e do jogo,dormia cedo.O avô precisava acreditar que ele criara juízo!De fato, o pobre ancião,

com os olhos injetados de dor,entre escarros e espasmos,decide

chamar o neto e contar-lhe o segredo não revelado:onde estava o tesouro!Souza ouve,entre o asco e o desejo de se afastar,hálito sanguinolento,o murmuro último do avô,que em febre delirante deixou este mundo:

-Eu sabia,meu menino,que este dia chegaria!No vaso,meu filho!Repetiu

.-No vaso!Ela guarda a chave tem quase trinta anos!Na base do vaso...tem o mapa do lugar..as barras de ouro...são suas! Ao ouvir a confissão,o sacripântas larga o quase cadáver do avô no leito e sai desatinado pela casa a cata dos vasos!O avô morre solitário,iludido.A noite vira dia enquanto quebra os que encontra nocaminho.Mal volta do enterro,Souza abandona o emprego para achar o tal vaso e a chave.Passa dias,que viram semanas e meses sem nada achar!

Enlouquece na procura,quebra estátuas,potes,e vários vasos da casa na procura pela chave e do mapa.Nada!As dívidas se acumulam e Souza tudo perde.Morre sem juízo,deprimido e mendigo.

No cemitério ao lado da igreja,dois meninos correm entre os túmulos.Um deles esbarra no vaso sobre o túmulo da avó de souza. Este quebra e o menino comenta, ignorando o pedacinho de papel na base do vaso:

-Olha Astolfo!Tem uma chave aqui!O outro apenas diz:

-Deixa aí!Vem Emiliano.É muito velha,nada vale...vamos brincar!

Brigeth
Enviado por Brigeth em 19/05/2009
Reeditado em 20/05/2009
Código do texto: T1603539
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.