ZÉ FRANCELINO
ZÉ FRANCELINO
Ele era o que se pode chamar de uma figura: alto demais, magro demais, pele escura em gritante contraste com os brilhantes olhos verdes, cabelos negros e encarapinhados e os maiores pés e mãos já vistos nesse mundo, esse era o Zé Francelino, que andava encurvado para equilibrar o desajeitado corpo.
Sua aparência era um desastre, mas ele não sabia disso, porque colaborava de todas as maneiras para piorar o que já não era nada bom; os homens se vestem apenas para cobrir o corpo, sem se preocupar com cores ou modas, mas o Zé fazia o contrario dessas normas, porque queria mesmo aparecer.
Suas roupas eram sempre de tecidos brilhantes e cores vivas e com sua altura podia ser visto e reconhecido de longe, mas ele achava pouco, completava as bizarras vestimentas com varias correntes douradas no pescoço e nos pulsos e em cada dedo das duas mãos ele colocava um chamativo anel.
Com todo esse exagero ele parecia uma Arvore de Natal o ano inteiro, mas o brilho maior era quando ele falava ou ria, porque todos os seus dentes eram encapados com ouro e seu brilho era ofuscante; esse era Zé Francelino o melhor peão amansador de burros, cavalos e mulas da região das Quedas.
Além de seu trabalho ele era sanfoneiro dos bons e montado em sua mula Dengosa ia para onde precisassem de seus serviços e de sua música; nenhum forró podia ser perfeito sem a sanfona do Zé e sua voz de trovão marcando as animadas quadrilhas, ninguém sabia onde se escondia aquele vozeirão.
Ele domava animais xucros, mas ensinar truques só ensinou para a mula Dengosa, que era uma atração a parte dos brilhos do Zé, ao seu comando ela deitava, rolava , relinchava e para encerrar ela erguia as patas dianteiras e dançava o Luar do Sertão ao som de sua sanfona, os aplausos eram sempre calorosos.
Ele nunca se casou e levou essa vida divertida até quase os oitenta anos, quando morreu tranquilamente em sua alegre e florida casinha; seus inúmeros amigos cuidaram de seu sepultamento e jamais se viu um enterro mais animado, porque ele sempre dizia: quando em morrer quero um enterro alegre.
Zé Francelino foi enterrado com todo seu brilho e foi uma festa, a banda de música tocando e o povo cantando e dançando, todos com suas melhores roupas e ninguém chorando, porque mesmo morto ele ainda espalhava uma sensação de alegria e felicidade e quando seu corpo foi dado a terra, foguetes espocaram e todos gritaram: Viva o Zé Francelino, Viva.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no Eda