O PORTÃO SURDO

O PORTÃO SURDO

Ela era uma mulher muito divertida, suas trapalhadas provocavam boas risadas nos moradores da cidade de Cravôlandia; ela sempre se enrolava com qualquer novidade que aparecesse, mas depois que entendia o mistério das coisas novas, ela até que se saia bem e ficava muito feliz com qualquer coisa.

Seu nome era Neula e estava sempre alegre, porque sempre estava mais ou menos fora do ar, porque comer ela comia pouco, mas beber ela bebia muito e bebia somente cachaça porque segundo sua sabedoria, cachaça pura é um santo remédio, mas misturada se torna puro veneno e é mortal.

Sua família não lhe dava dinheiro para comprar sua amada cachaça e ela tinha que se virar para conseguir alguns trocados para beber e nessas suas andanças atrás de trabalho ela sempre conseguia aprontar alguma coisa errada e engraçada; estudar Neula não estudou quase nada e uma profissão ela não tinha.

Ela tentou trabalhar de faxineira e foi um desastre, porque suas mãos tremulas pelo excesso de bebida, derrubava louças e enfeites e era um prejuízo atrás do outro, sua fama de destruidora correu pela cidade e ninguém quis mais saber de seus serviços; sem opção ela passou a se oferecer para capinar quintais.

Isso deu mais ou menos certo porque o serviço era mal feito, mas pelo menos ela não quebrava nada e por qualquer moedinha ela capinava; enquanto os portões das casas eram do modelo tradicional foi tudo bem, mas com a chegada dos eletrônicos, Neula se atrapalhou toda com o primeiro que viu, na casa de Berê.

Ela chegou para trabalhar e tocou a campainha, tomou um susto quando a voz de Berê perguntou lá de dentro: quem é? Meio zonza com a novidade, ela respondeu: é a Neula, o portão se abriu e ela entrou e foi direto para o quintal trabalhar, assim que ela entrou Berê saiu para dar aulas no colégio.

Saindo já atrasada, Berê se esqueceu de avisar a seu marido que Neula estava trabalhando no quintal e ele saiu logo em seguida fechando a casa e o portão; quando terminou a capina, Neula chamou por Berê para abrir o portão para ela sair e descobriu que estava só e fechada no quintal da casa.

Ela se lembrou então do portão novo e ficando de frente para ele, disse: Neula e nada, falou mais alto: Neula e continuou dizendo seu nome e o portão não abriu, desanimada ela resolveu esperar por Berê e quando ela chegou, Neula disse: quando cheguei falei meu nome e o portão abriu, agora falei até cansar e ele não abriu, acho que ficou surdo; Berê nem tentou explicar o mistério do portão.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 16/05/2009
Código do texto: T1597537
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