CONVITE X CONVITE
CONVITE X CONVITE
Cidadã metida a elegante e grande apreciadora de festas, dona Lucrecia adorava receber convites e de todos os eventos para os quais era convidada, o que ela mais gostava eram os convites para casamentos e por varios motivos: pela beleza das noivas, a elegância dos noivos e o capricho dos convidados.
Se a cerimônia fosse seguida por uma grande e badalada recepção para ela estava ótimo, mas se os noivos se despedissem na porta da igreja, também estava certo, porque a beleza está na reunião com parentes e amigos e não no tamanho da comemoração e de todas as maneiras ela enviava flores e comparecia.
Dona Lucrecia era uma veterana freqüentadora de casamentos e nunca se cansava do assunto; apesar da idade já bem avançada, seu prazer com esses acontecimentos continuava sempre o mesmo e era com enorme alegria que ela recebia um novo convite e se preparava para participar.
Mas os tempos mudam e novos tempos trazem novos costumes e até no cerimonial dos casamentos as mudanças se fizeram notar; as igrejas são lindamente floridas e as noivas esbanjam elegância e beleza com seus vestidos leves e com lindos decotes, os velhos buquês de flores de sabugueiro sumiram.
Agora os buquês das noivas são obras de arte das floristas e vem em todas as cores do arco íris; mas uma novidade tornou esses eventos discriminatórios e bastante deselegantes, são os dois tipos de convites para uma mesma cerimônia, uns com cartãozinho para a festa e outros sem ele.
Dona Lucrecia se assustou quando soube dessa diferença e disse: só compareço a casamentos daqui para a frente, se eu receber convites de cidadã de primeira classe, se for de segunda classe, vou enviar flores e não vou comparecer; prefiro ser ignorada e nunca mais receber um só convite.
Essa opinião da velha senhora correu de boca em boca e muitas pessoas tomaram a mesma posição e agora as igrejas ficam quase vazias por ocasião de casamentos com convidados de duas categorias; os convidados da segunda categoria enviam presentes e flores, mas não comparecem.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA