MALDADE NO TRABALHO

Um escritório de representações, na área alimentícia, dias de calmaria numa pequena empresa, que possui apenas 6 funcionários, tirando os sócios, em número de quatro.

O que cuida da parte administrativa é um sorridente advogado, Sr. Garcia, que mantém os empregados na linha com muita educação.

Ambiente amplo, que tem o escritório cercado por um grande balcão de atendimento e acomodados os empregados em mesa que ficam bem longe uma das outras, evitando conversas desnecessárias.

Exceção feita a duas mesas, onde estão Denise e Célia, porém bem à frente delas, a sala do Dr. Garcia, com uma divisória de vidro, para bem supervisionar os trabalhos.

Célia é uma linda moça, mas que "assume" toda a fama que se coloca de "loira burra". De corpo escultural, seios fartos, formas bem delineadas, faz questão de exibi-las em vestidos bem provocantes, colados ao corpo, com decotes avantajados. Junta a esse visual, sapatos bem altos, que daria a qualquer mulher uma maior elegância, mas no caso dela destoa, pelo fato de ela não conseguir se equilibrar neles, tornando o seu andar um tanto quanto grotesco.

Mas, na sua visão, quanto mais "remelexos", mais sexy fica!

O rosto é delineado por uma grossa camada de maquiagem, que não condiz em nada com o ambiente de trabalho, nem com o horário. As sombras sempre num tom diferente da roupa, que é para dar contraste, como ela diz. Batom, sempre vermelho, este sim combinando com a cor de suas unhas postiças.

Célia é uma figura! Faz as vezes de telefonista e recepcionista da empresa, além de se dizer secretária de um dos sócios, o mais jovem deles.

Denise é também uma moça muito bonita! Morena, de cabelos compridos, olhos de um castanho claro que se destacam em seu rosto, boca carnuda, corpo escultural, mas que ela esconde esses atributos em roupas simples e um óculos de aparência pesada, que como ela diz, lhe dá um ar de intelectual.

Dona de uma linda voz, sempre recebe cantadas baratas pelo telefone, mas por ser muito direta ao falar, acaba colocando todos no devido lugar.

Ela detesta ser vista como "carne em açougue". Prefere que lhe admirem pela sua cultura e inteligência. O trabalho dela é diretamente com o Dr. Garcia, o que lhe dá uma grande intimidade profissional com ele, que a admira e ainda lhe incentiva a seguir a formação escolar dele. Conversam muito sobre direito, em todas as suas divisões, ela porque tem muito interesse na área. Ele como que tentando fazer sua cabeça para se tornar uma "colega" de profissão.

Apesar das duas conviverem lado a lado, essa relação é um tanto quanto tumultuada. Célia não suporta o ar de intelectual da Denise. E Denise, por sua fez, detesta a vulgaridade de Célia. Mas...

Um dia, logo no começo do expediente, Denise pediu a um dos auxiliares, que limpasse alguns pequenos objetos que eles possuíam, ensinando-o a fazer.

- Toninho, pegue-os e coloque numa bandeja com água e um pouco de detergente, deixando um pouco de molho e em seguida lave-os em água corrente,com o auxilio de uma escova pequena.

- Está bem. Vou colocar em baixo do balcão para ficarem de molho.

Era um dia de pouco movimento e muito calor. A sala do Dr. Garcia estava com a porta aberta. Célia, como sempre, ainda não havia chegado. Isso era outra coisa que irritava Denise, pois ninguém falava nada sobre seus constantes atrasos.

- Bom dia pessoal!...dizia Célia sempre que chegava, fosse a hora que fosse.

- Boa noite Célia, respondia sempre a Denise.

O dia transcorria normal, até que Célia olhou aquela bandeja com água e perguntou:

- O que é isso?

- Cuidado Célia. Não chegue perto! É H2O, pode lhe causar uma queimadura terrível, disse Denise.

Ao que Célia deu um pulo para trás, soltando um sonoro Oh!!!!!!

Gargalhada geral, menos do Dr. Garcia que saiu de sua confortável cadeira e disse:

- Muito bem Dona Denise. Agora explique a ela o que é H2O.

- O duro não é explicar Dr. E sim TER que explicar uma coisa tão banal!

- Por favor, explique a ela.

- Célia, minha linda amiga, H2O nada mais é do que Á-G-U-A!!!!!

Novamente gargalhada geral. Ela tão branquinha que é, ficou vermelha como um pimentão! E desatou a chorar...

Denise continuou o seu trabalho com uma expressão marota no rosto. Tinha ganho seu dia, mesmo tendo sido repreendida pelo Dr. Garcia, que disse que não iria mais tolerar esse tipo de atitude.

O tempo passou...chegou o inverno. Mas nem o rigor do tempo fazia Célia abandonar os amplos decotes!

Num daqueles dias bem gelados, úmidos, Célia está afônica, com dor de garganta e comenta com a amiga:

- Ai... minha garganta está doendo tanto... Você acha que devo ir ao médico?

- Acho que não é caso para isso. O ideal seria você procurar uma farmácia.

- Mas o que vou falar que tenho? No médico não precisaria falar, ele iria saber...

- Isso é fácil... É só você falar que quer um remédio, porque está com gonococos na garganta.

- Será que ele vai saber me curar?

- Claro. Você falando isso, com certeza!

- Acho que você está certa. Vou até a farmácia.

Célia levanta, pega a sua bolsa e se encaminha a sala do Dr. Garcia, indo avisa-lo da sua breve saída.

- Dr. Garcia, vou dar uma saída rápida até a farmácia.

- Mas o que houve Célia, você não está passando bem?

- Não doutor, nada de mais. Eu apenas estou com gonococos na garganta...

Ao que se houve um berro do Dr. Garcia:

- DENISEEEEEEEEEEE

Santo André, 16.03.04 - 13:47 h