Vícios impertinentes - só para mentes abertas
O relógio idiota estava uma hora adiantado o que me levou a chegar cedo demais ao nosso encontro na cafeteria. É a primeira impressão que conta e eu detesto ser a chata que fica esperando do lado do caixa observando o movimento sem saber ao certo onde pôr as mãos.
Teria um encontro importantíssimo para minha carreira. Como uma ótima empresária, eu teria o direito de publicar minha bibliografia.
Resolvi sentar em uma cadeira no fundo da cafeteria e pedir um café só para tirar o gosto dos biscoitos que minha quase-sogra fez. Pensando nisso, que ótimo título, A Bibliografia da solteira de 40 anos.
Não posso reclamar. Tive uma vida amorosa bem ativa.
Ai, aquele garçom está me encarando a muito tempo. Acho que vou precisar de uma bebida mais forte. Uísque, no café da manhã? Não vai dar uma boa impressão. Vou ficar no café.
Acho que fiquei mexendo com aquela colherzinha no meu café por tempo demais. Que gosto de metal!
No tédio, resolvi pensar no que uma renomada empresária, como eu, não iria escrever na bibliografia.
Minha mente vagou no passado e foi direto pro poço da minha casa. Grandes lembranças, como por exemplo quando eu e o Jimmy caimos no poço durante um amasso. Eu já era maior de idade e nós dois, o casalzinho da turma, achamos uma solução para nos manter quentes. Aquela foi minha primeira vez.
Depois de três anos com o Jimmy nos terminamos e eu descobri que tinha um vício: Namorados, o que mais me atraia neles era o brinquedo no meio das pernas.
Meus outros namorados não duraram muito mais do que uma semana. Meu apelido foi corrimão por três anos seguidos. Eu tinha um problema ma jamais admitiria. Eu tinha apenas 21. Fui eleita garota verão mesmo com aquela idade. Meu corpo era lindo e eu era até campeã de atletismo. Meus professores jamais reclamaram do meu desempenho escolar: Ninguem colava melhor que eu. Apesar de ter ido para a clínica de reabilitação eu não mudei nada. Em dois anos eu tive mais de quarenta namorados e não sabia o nome de trinta deles.
Eu não era baderneira.
Eu até sigo as regras às vezes. Mas eu detesto ter de saber o nome de um cara antes de ir pra cama com ele. Na pior das situações eu chamo de amor.
Não sei como eu fiz sucesso. Talvez por dormir com alguns ricaços e começar investimento. Nunca fiz plástica e tenho um corpo de 30. 40% do dinheiro que eu ganhei na vida eu gastei em academia, maquiagem, tratamentos de pele e escovas. 20% gastei em roupas, mais 15% gastei em lingerie. Se não gastasse tanto, provavelmente seria a mulher mais rica da terra.
Em relação a formação academica: Me formei em administração e depois cursei física. Não passei. Tenho algumas experiencia no ramo de editoras e literatura, uma vez eu trabalhei em uma revista por quase um ano.
Fui demitida por dormir com o marido da minha chefe.
Eu não bebo socialmente. Só bebo pra fazer charminho mesmo ou pra acalmar os nervos.
Passei a maior parte da minha vida sóbria, a única vez que eu fiquei bebada mesmo, me propuseram casamento. Eu não estava bebada o suficiente para aceitar. Eu jamais consegui me apegar a um homem só.
Ok. Mentira.
Teve um Italiano chamado Cartuchinni, pra mim isso é nome de massa, tive um rolo sério com ele. Era uma bomba na cama. Nos separamos depois que ele foi morar com a mãe em Florença.
Depois deles teve o Roger. Eu estava seriamente apaixonada. Ele era lindo, inteligente e querido. Super atencioso. Mas não era meu namorado.
Lembrava dia das mães, dos namorados, meu aniversário, sempre me fazia rir e era o melhor amigo do mundo. Eramos meio hippies naquele tempo, totalmente fora de moda. Quando descobri que minha mãe foi parar no hospital eu corri para a casa do Roger.
As 4 horas da manhã ele estava dirigindo um carro para uma cidade de interior à 400km da sua casa para mim ver minha mãe. Eu estava abalada. Deitei no seu ombro e suspirei baixinho.
Ele pôs a mão no meu rosto e prometeu que tudo ficaria bem.
Beijou minha testa com carinho.
Eu beijei seus lábios. Ele parou o carro no acostamento e retribuiu o beijo delicadamente. Devagar, terno e profundo.
Afastou meus lábios e voltou a dirigir.
Passei a noite com minha mãe no hospital e depois daquilo nunca mais nos falamos. Eu até soube notícias dele ultimamente, está vivendo em uma linda casa em Cocoa Beach com Lancy.
Lancy era meu namorado na oitava série.
As vezes eu me sinto um imã de gays.
Teve uma vez que eu viajei com meu namorado Tantálio, e até hoje eu deconfio que este nome seja um componente da tabela periódica,para Paris. Nossos amigos Marcio, Debora e Lucas nos acompanharam.
Eu terminei com Tantálio quando descobri que ele estava me traindo.
Com o Marcio.
Minha mãe faleceu sete anos depois de AIDS. Ela era como eu.
Outra viajem emocionante foi a de formatura na faculdade. Isso faz mais tempo. Eu e Moby fomos para os Alpes. O padre da catedral ao lado do nosso hotel desistiu da batina depois do nosso terceiro encontro no confessionário.
Obrigada Jesus.
Morei com o ex-padre Husso por dois anos. Ele me flagou com o André no armário e me expulsou de casa.
Aos trinta e oito anos eu resolvi arranjar um emprego decente. Comecei a trabalhar em uma empressa de pequeno porte. Eu dirigia um caminhão clandestino do México até os Estados Unidos.
Passei três meses na prisão até o julgamento. Fui enviada para um psicologo por ter problemas. Vício em desafiar a autoridade.
Estaria liberada da cadeia se não tivesse sido condenada por desacato a autoridade depois de socar o juiz e ser socada por tres seguranças: O Carlos, O Angelo e o Mateus. Nomes de anjos.
Morei com o Angelo por tres meses e terminamos quando eu resolvi ficar com o Carlos.
Ele está morando com o Mateus e são sócios da nossa empresa.
Tive outros namorados.
Nada realmente importante. Tinha o cara do Queen. Um manezinho da ilha de Santa Catarina viciado em Queen. Fomos no couver.
Depois teve um gostoso que tinha um barco. Nos tivemos grandes noites naquele barco.
Também namorei um garoto, dez anos mais novo, ele tinha 18 anos e um fuca azul calcinha.
A mãe dele só permitiria o namoro se eu fisesse tratamento com um psicologo. Eu fiz. Dormi com ele, O psicologo.
Nunca mais ouvi falar do garoto do fuca azul calcinha.
Sei que ele deve estar em algum lugar com alguem batendo a cabeça no teto do fuca.
Resolvi fazer um outro tratamento com a Dra. Eliane. Estou indo bem até agora. Nada de sexo durante tres meses e...
Duas coisas acontecem no mesmo minuto:
O jornalista entra pela porta.
Meu telefone toca.
Eu faço sinal pra ele e vou atender o telefone. é a Dra. Eliane. Olho para o telefone. Olho para o jornalista. 20 anos, alto e um sorriso lindo.
-Dra. Eliane? Nossa consulta? Não vai dar. Quem sabe na próxima vida.
Desligo o telefone e eu e o jornalista vamos ter uma "entrevista exclusiva" no banheiro.