Fusão

Ele apareceu ao longe, e então era um menino crescido, vestido com roupas alegres e deslumbrado com os movimentos e as cores; e ela, uma observadora atenta, com olhos igualmente deslumbrados, mas de posse de toda a consciência.

Ele a abraçou, e então era seu amigo e protetor, era a personificação do carinho e da ternura e toda a alma daquele momento; e ela, um ser carente, dependente, entregue, inundado por sua luz e leveza, represando nela toda a energia daquele contato.

Ele a tomou pela mão, e então era um adolescente, feliz e insciente da vida, flutuando sobre uma senda invisível, vivendo o instante como se nada houvesse em torno; e ela, uma menina apaixonada, contaminada por aquele egoísmo alegre cuja aura era a redoma de cristal a protege-los de qualquer perigo.

Ele a beijou, e então era mais que um amigo, era um ser humano tocado pela magia do encontro, era a delicadeza evoluindo num crescendo natural para a paixão afogueada; e ela, apenas uma alma perdida, envolvida pelos seus lábios até ir retomando, de forma inquestionável, a consciência do corpo.

Ele fez amor com ela, e então era o homem, mas não era só ele, era ela também; e ela, a mulher, mas parte dele, e então não eram mais nada, porque já não tinham mais identidade além da fusão, ainda algo tímida e incerta porém sem controle, como uma onda que não se pode bloquear, como um vendaval que não se consegue deter.

Ele lhe deu uma rosa vermelha: era um convite para entrar no seu mundo.

Ela lhe deu algumas lágrimas: eram toda a sua imensa gratidão.