QUE NEM GUIMARÃES ROSA
Outrora, nos antigamente, coisas de antanho, mal dando pra se ver no escurecendo – agora afloram. Sou de nem palavras, mas... minha casa subia morro. Em frente, no percúcio, a casa de comércio. No meio, rua pedregosa e poeirenta. De enfeite, do lado da casa comercial, harmonioso jardim inventava cores: boungainvilles, roseiras, ciprestes em forma de bichos – bancos para agradar fregueses. Bairro pobre, abrigo de antigo cemitério, almas perdidas embrenhavam mistérios. Um lugar havia para amarrar burros, ferrar cavalos com competência. O pai, homem galante, prosador, corajoso do que mais me alembro. Com o pouco, do menos dinheiro guardado, armou casamento, convenceu fazendeiro com ardilidade e esplendição a fazer empréstimo. Encostado na força da companheira – mulher resoluta – ergueu duas casas: a de comércio e moradia. E, daí botou tenência e primazia. Começou a arribar sua vida. Erguia cedo, todas as manhãs, com o cantar do galo, varria e aguava rua, precavendo empoeirar mercadorias. Que eu me alembro a mãe dizia: -“ Deus nos sacuda! Virgem Nossa! Não fica bem homem da sua estatura varrer rua”! Ele nem ligava... Queria mesmo era ver sua loja cheia – o dinheiro caindo na máquina registradora no corrido contínuo, incessar. Do turco, patrão professor, aprendeu toda filosofia de ganhar dinheiro – gastar nunca, jamais. Com flor na lapela dançadoava toda freguesia; gente esturde, humilde, da roça. Era padrinho de casamento de todo freguês que, beijando-lhe a mão, dizia: - “A bença, padrinho”. Haverá até de causar espécie, figurante figura, personagem personaficante que esse pai, no que num engano, sabia-o, até que ponto, encantar mulheres. As muitas pessoas, os vizinhos. Elias, o turco, Maria Pena, Mundica, Caetano, o sapateiro, João Nogueira, Tameme, Rosa... pelo sol que me alumia,todos com frescor e emoção eram amigos. Infância é coisa, coisa? Porque eu desconheci meus pais – eram-me tão estranhos; jamais poderia, verdadeiramente, conhecê-los, eu; eu?