OS CHIFRES DO DIABO
Ela não sabia ainda a dimensão do amor. Muito novinha sabia apenas do amor puro, do papai, da mamãe, do irmão, do amigo... Mas um dia, aquele outro amor, de dimensão incomensurável, aquele amor que arrasta, que consome, às vezes dá vida, às vezes mata, adoece, cura, salva, joga no buraco, aquele amor louco - dela se apossou. Ela, despreparada, se apaixona por um sujeito que não a merecia. E, como o amor é cego, não conseguia ver seus defeitos, suas malandrices... E o pior aconteceu; ficou grávida! E, agora, meu Deus?! Os pais não se conformavam... Uma menina tão pura, tão santa... Mas o que fazer?! Aceitaram; porém muito preocupados. O melhor é você se afastar desse sujeito. Nós vamos ajudá-la. E ela ganhou um bom tempo para rever todo aquele amor louco, sem limites. Pôde avaliar o quanto ele era irresponsável e mau. Mau, sim. Sempre grosseiro, tratando-a como uma Maria Broaca. O pior é que ela assistia à novela Pantanal. Aos poucos foi colocando na sua cabeça: - “E se o seu filhinho nascesse parecido com o pai”?! O pai era o próprio demo. E se ele nascesse com chifres e rabinho?! Aqueles lindos sonhos de adolescente sumiram. O que mais sonhava era com o filhinho nascendo de chifres e rabinho.
Assim se passaram nove meses. Até que as benditas dores do parto chegaram. Correria, hospital e não é que nasce uma linda criança! Depois de limpinha, embrulhada, vai a enfermeira mostrar para a mãe a linda cria. A mãe, ainda abatida, começa a gritar: - “Que horror, meu filhinho tem chifres! Puxou o pai”! Todos, abobalhados, surpresos, diziam: - "A criança é linda, não tem chifres! Por mais que falassem, não a convenciam. Foi preciso muito calmante, muita lavagem cerebral até que a despreparada e enganada mãe, deixasse de ver os chifres na cabeça do filho.