MENINO DE RUA
Eu o conheço desde criança. Da janela via-o perdido pela rua, como cachorro sem dono, preto como carvão, pedindo sempre: - “Me dá comida, estou com fome”! Fazia gesto apertando o estômago. Nunca neguei. Depois foi crescendo, ali mesmo na rua, e pensei em orientá-lo com algumas dicas. “Você precisa aprender a lavar carros. Ganhar dinheiro! Vou dar-lhe flanelas e um balde. Você quer”? Ele mal respondia.
Cheguei à conclusão de que não tinha a menor condição de exercer uma profissão. Com medo de que fosse para as drogas, ao invés de dar-lhe dinheiro, levava-o a um boteco e dava-lhe refeição. Ele sempre dizia: - “Quero também um guaraná”! Achava-o meio abusado, mas não negava.
Agora é homem, adulto. Contínua o mesmo. Acho que banho jamais tomou. Mora na rua. Mas, quando me vê, vem alegre, sempre sorrindo. Sinto que é meu amigo. E sempre diz um “Deus lhe pague”, que me convence e me faz feliz também.