Poder de persuasão
Diziam que o cara era um tranqüilo, mas para mim ele é a personificação da calma e, aí, tenho que concordar com os que dizem que o cúmulo da calma é o extremo da tensão. Mas esse cara era calmo mesmo. Casou-se, teve filhos, bom emprego e querido por parentes e amigos. Depois de muitos anos de um casamento que parecia sólido, veio a separação e, aí, parece que ele ficou ainda mais tranqüilo. Mudou-se para uma bela casa à beira de um lago e deixou a mulher com as crianças na casa até que se decidisse o que fazer com ela. Partilha feita, ficou decidido que a casa seria vendida para a divisão do dinheiro em partes iguais. E o cara mandava os potenciais compradores para ver o imóvel; e a mulher os despachava sem que o vissem e avaliassem. E o calminho na dele. Calmo. O cara é calmo e pronto. Foram alguns anos nessa tarefa de mandar interessados em comprar a casa e a ex rechaçar sem mais delongas. Até que um dia, seis horas da manhã de um domingo a ex acorda com o barulho de buzina de uma pick-up, já dentro do quintal e lotada de homens munidos de marretas, pás e picaretas. Eram uns seis parrudões com cara de poucos amigos um pouco atrás do ex marido que, calmamente, esperava que ela viesse abrir a porta. Quando finalmente ela abriu a porta ele foi direto ao assunto. – Vim aqui dizer que não quero mais vender a casa, não quero mais a minha parte na casa e, por isso vou derruba-la para que você fique sossegada na parte que lhe cabe. Não sei se ele cumpriu a ameaça, mas recebi um torpedo no celular comunicando um churrasco. E nem é preciso levar a cerveja, só o calção e o bronzeador.