ZALINA
ZALINA
Preta e linda, elegante com suas sete saias de baeta, seu sorriso fácil e seu andar altivo, essa era Zalina e para completar, sua alma era clara como uma noite de luar; ela era a lavadeira e melhor amiga de dona Maria e tornou-se com o passar do tempo a segunda mãe de Rutinha, a filha da patroa.
Zalina morava nos fundos da casa de dona Maria e com essa facilidade Rutinha estava sempre junto da querida mãe torta e ela fazia tudo para agradar a menina e ao lado dela Zalina se tornava também um pouco criança, porque aos seis anos a menina era alta, forte e muito experta.
Enquanto a querida preta trabalhava, a menina ficava por perto dizendo que estava ajudando na lavagem das roupas, mas na verdade ela estava era atrapalhando o serviço e quando dona Maria dizia: venha para dentro Rutinha, você atrapalha Zalina e a preta respondia: pode deixar o anjo comigo.
Todas as noites perto do fogão de lenha da cozinha, Zalina contava historias de fadas e bichos, com a menina aconchegada em seu colo até o sono chegar, então ela carregava Rutinha, colocava em sua cama, ajeitava os cobertores com carinho dizendo: dorme meu bem e sonhe com os anjos.
Zalina saia para passear com Rutinha e tudo que a menina queria ela fazia, como o dia que ela pediu um cacho de uvas da parreira se sá Miloca e Zalina pegou para ela, mas a velha se zangou e disse: você não pode pegar o que não é seu Zalina e ela respondeu: Rutinha quer Zalina pega.
A menina chamava a lavadeira de Mãe Preta e dona Maria explicou para a filha, que Mãe Preta lembrava o tempo da escravidão e isso não era bom, mas Zalina disse: o tempo dos escravos passou, mas eu sou a Mãe Preta de Rutinha, preta ou branca, mãe é doce na boca das crianças.
As inseparáveis Zalina e Rutinha estavam sempre aprontando e quando a menina se encantou com uma linda boneca de porcelana que piscava os olhos azuis, Dona Maria disse que o preço da boneca era muito alto e não cabia nas suas finanças, mas de volta de um de seus passeios a menina chegou carregando a boneca.
Zalina disse : comprei a boneca pra Rutinha e vou lavar as roupas do dono da venda até pagar tudo, dona Maria não queria aceitar aquilo de jeito nenhum, mas ela fechou a questão, dizendo: a mãe branca não tem como pagar a boneca, mas a mãe preta pode pagar com seu trabalho.
Amada e cuidada por duas mães Rutinha cresceu saudável e feliz, os mimos exagerados de sua Mãe Preta não fizeram mal, porque ela tinha boa índole e se tornou uma boa pessoa; as duas mães de Rutinha foram para o céu faz muito tempo, mas ela nunca se esquece delas e de seu carinho.
Todos os anos no dia das mães, ela vai ao cemitério e leva duas cestas de flores, uma para a Mãe Branca e outra igualzinha para sua Mãe Preta, porque depois de tantos anos ela ainda sente saudades das suas duas melhores amigas e melhor que ninguém, Rutinha sabe que mãe não tem cor, é Mãe e fim.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA